Há uma semana, na votação do
impeachment, o pedaço do Brasil que ainda tem noção do ridículo se chocou com o
que assistiu. Então a Câmara é isso?!? Foi difícil ouvir as manifestações de
voto sem sentir uma espécie de vergonha interior. O desconforto aumentava cada
vez que um deputado esbravejava em nome deste ou daquele familiar, de uma
cidade ou de um Estado, de uma moral rota ou de uma ética insuspeitada, do
torturador morto ou do prefeito que seria preso horas depois… No fundo da
consciência da plateia uma voz bradava: “Hipócritas!”.
Foi
um espetáculo inusual. Só de raro em raro a Casa está tão cheia. Normalmente,
as votações são simbólicas, aquelas em que os deputados apenas levantam a mão.
Quando é preciso votar nominalmente, usa-se o painel eletrônico. Na sessão do
impeachment, todos tiveram seus segundos de microfone. E a coisa degenerou.
Tomado pelo número de vezes que foi mencionado, Deus deixou de ser full time. Se o
Todo-Poderoso desse mesmo expediente integral certamente teria feito ecoar no
plenário, com voz de trovão, o epíteto do Evangelho: “Raça de víboras.”
Na
visão da megabancada cristã, a Câmara virou um campo escolhido pelo Senhor para
manifestar seus desígnios. Os deputados seriam apenas peças movidas por Ele.
Mas seria sobrecarregar Deus além da conta forçá-lo a decidir entre a
infantaria de Eduardo Cunha e a tropa de Dilma Rousseff? Mais fácil supor que,
depois de criar o universo, Ele terceirizou a política ao Diabo.
Muito
já se disse e escreveu sobre assunto nos útimos sete dias. Mas você deveria
gastar um pedaço deste domingo para fazer uma introspecção. Pode ser após o
despertar, barriga colada à pia do banheiro, enquanto espalha o dentifrício
pelas cerdas da escova. Levando a experiência a sério, depois de bochechar e
lavar o rosto, você enxergará no espelho, no instante em que erguer os olhos
para pentear os cabelos, o reflexo de um culpado.
Indo
mais fundo no processo de autoexame, você verá materializar-se diante de seus
olhos o óbvio: parlamentares não surgem por geração espontânea. Eles nascem do
voto. E talvez você levante da mesa do café da manhã convencido de que a crise
no sistema representativo exige uma atitude. Um gesto individual e consciente.
A crise não admite mais que o eleitor se mantenha exilado no conforto de sua
omissão política. Intima-o a retornar à história, para moralizá-la.
O
primeiro passo é o abandono da cômoda retórica de que os políticos “são todos
iguais''. Não são. A igualdade absoluta é uma impossibilidade genética. Bem
verdade que o excesso de roubalheira faz todos os gatunos parecerem pardos. Mas
a magia de momentos como esse é a possibilidade de redescobrir uma verdade que
dá sentido à democracia: para os eleitos inconscientes, o eleitor impaciente é
um santo remédio. Lembre-se: 2018 vem aí. Você tem duas opções: ou vota direito
ou continua se comportando como um deputado. (Via: Josias de Souza)
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