No início de 2012, Dilma Rousseff
vivia em lua de mel com o país. Era a presidente mais bem avaliada após o
primeiro ano de governo, superando Lula e FHC. A popularidade não se refletia
no Congresso. Parlamentares reclamavam do estilo da petista, que ignorava os
pedidos que se acumulavam no Planalto.
Em março, o
sistema emitiu os primeiros sinais de rebelião. O Senado rejeitou uma indicação
para agência reguladora, e o PR ameaçou deixar a base porque não conseguia
nomear o ministro dos Transportes. O ex-presidente Fernando Collor subiu à
tribuna e fez um alerta à sucessora.
"O diálogo precisa ser reaberto. Digo isso com a experiência de quem,
exercendo a Presidência da República, desconheceu a importância fundamental do
Senado e da Câmara. O resultado desse afastamento redundou no meu
impeachment", disse, em tom dramático.
"Muitas
vezes, até não fazemos muita questão de ter uma solicitação atendida pelo
Planalto, mas precisamos de consideração e atenção", prosseguiu o
ex-presidente.
Dilma não
ouviu a lição de Collor. Em cinco anos no poder, barrou a aproximação de
parlamentares e governou de forma imperial. Impaciente, habituou-se a deixar
deputados e senadores falando sozinhos, quando não distribuía broncas como se
fossem seus subordinados.
Os
episódios de mágoa se sucederam, e a presidente deixou de estabelecer relações
de lealdade que lhe fariam falta no futuro. "O erro da Dilma foi tratar
todo mundo no coice, como fez o Collor. Na hora da dificuldade, ela pegou a
bicicleta e saiu pedalando sozinha, em vez de se cercar de aliados", me
disse o deputado Heráclito Fortes, do PSB.
A
ex-ministra Maria do Rosário, do PT, ouviu o rival sem discordar. "O
Congresso não estava acostumado a uma figura tão austera na Presidência. Essas
coisas não deviam ter importância, mas vão acabar contando muito", ela
previu. Era a véspera da votação do impeachment. (Via: Folha de S. Paulo / Bernardo Mello Franco)
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