O cenário hídrico do Rio São
Francisco, que no ano passado já tinha tirado o sono dos fruticultores da
região, caminha para ser ainda mais crítico em 2017. Para evitar que isso
aconteça, a Agência Nacional das Águas (ANA) quer antecipar as providências.
Por meio de nota da assessoria de comunicação, o órgão adotará uma medida,
batizada de ” Dia do Rio”, que vai ser aplicada para todos os usos, menos para
consumo humano e dessedentação animal.
O objetivo é preservar o estoque de água armazenado nos reservatórios e
evitar que Sobradinho alcance o ‘volume morto’ antes do início do período
chuvoso, em dezembro. Conforme nota emitida anteriormente, a própria agência trabalha
com um possível cenário de que Sobradinho chegue ao volume morto (quando não é
possível a geração de energia a partir do uso da barragem) ainda em agosto
deste ano. A medida inclui retiradas para todos os usos, dos perímetros de
irrigação, mesmo que sejam oriundas de volumes de água reservados previamente.
As restrições ao uso das águas do São Francisco vão vigorar a partir da
próxima quarta-feira (21) e até 30 de novembro, quando se espera a chegada das
chuvas ao longo da bacia. A regra vale para aquelas captações que ainda não
estejam submetidas a regras mais restritivas de uso, e caso não haja uma
melhoria significativa nos níveis de água dos reservatórios do São Francisco,
as restrições serão prorrogadas.
Essa situação acendeu o alerta vermelho para os empresários que lidam com
projetos de irrigação na Bahia. Na região Oeste, onde 60% da produção de grãos
está concentrada, os 1.200 pivôs, que irrigam 130 mil hectares de área
plantada, poderão sofrer impactos ainda mais severos, com a prolongada seca na
região. Isso porque é da região os únicos afluentes perenes do Rio São
Francisco na Bahia: Corrente, Carinhanha e Grande.
Conforme explicou o diretor de Águas da Associação dos Irrigantes da Bahia
(AIBA), José Isino, existe o risco de que as captações nesses três rios também
sejam suspensas, como forma de garantir o fornecimento de água para a calha do
Velho Chico. “Por enquanto é
uma decisão que cabe apenas ao rio de Domínio da União, o São Francisco, mas
pode valer para toda a bacia, o que afetaria os rios baianos que são seus
afluentes”, disse.
José Isino explica ainda que há o temor de um agravamento da seca ao longo
da Bacia do Rio São Francisco, já que as próximas chuvas só são aguardadas ao
final de novembro. “Nós fomos
alertados pela ANA, em uma reunião ocorrida em Recife (PE), de que esse volume
zero pode ser antecipado para agosto, já que a vazão (saída de água) da
Barragem de Sobradinho tem sido maior que a afluência (chegada) do lago”,
adverte.
No próximo dia 6 de julho, em Barreiras, empresários irrigantes vão se
reunir para discutir a gravidade da situação. No Oeste, os irrigantes contam
com a captação de água para irrigação com as águas dos Rios Grande e Preto, nas
cidades de Barreiras, Luís Eduardo Magalhães, São Desidério, Formosa do Rio
Preto, Barra e Santa Rita de Cássia, e em Correntina, Santa Maria da Vitória e
São Felix do Coribe, com os rios Correntina e Carinhanha, que fazem parte da
Bacia Hidrográfica do São Francisco, além de projetos que captam água
diretamente do São Francisco, em Bom Jesus da Lapa, Sítio do Mato e Paratinga.
Vazão reduzida: Para tentar evitar que o Lago de Sobradinho chegue ao volume morto antes
da chegada do período das chuvas, a ANA já reduziu a sua vazão de água em mais
de 50%, do final do ano passado até agora. O lago funciona como uma grande
caixa d‘água, onde são armazenadas toda a água que segue em direção aos
complexos hidrelétricos de Itaparica, Paulo Afonso e Xingó, de onde saem mais
der 60% de toda a energia que abastece a Região Nordeste.
Atualmente chega ao lago um volume médio de 500 metros cúbicos de água por
segundo, e sai pelos vertedouros 600 m³/s (metros cúbicos por segundo), gerando
um déficit de 100 m³ de água a cada segundo. No último dia 11 o lago estava com
12,92% do seu volume útil. Na terça-feira esse volume tinha caído para 12,86%.
No mesmo período do ano passado o Lago de Sobradinho estava com 22,70% do seu
volume útil de água.
Desde o início do mês, a vazão média diária de defluência, autorizada pela
ANA, nos reservatórios de Sobradinho e Xingó é da ordem de 600 m³/s, o menor
patamar já praticado. Em 11 de junho, o volume equivalente dos reservatórios (Três
Marias, Sobradinho e Itaparica) era 18,6%. Na mesma época do ano passado, o
volume útil equivalente armazenado era 29,21%. (Via: Tribuna da Bahia/Blog do Carlos Britto)
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