Em quatro anos, a Polícia Federal deflagrou 2.056 operações contra
organizações criminosas que provocaram prejuízos estimados em R$ 123 bilhões ao
País. Os números revelam que o maior rombo não é o apurado pela Lava Jato, mas
o causado pelas fraudes nos fundos de pensão investigadas na Operação Greenfield,
que alcançam R$ 53,8 bilhões ou quatro vezes o valor de R$ 13,8 bilhões
desviados pelo esquema que agiu na Petrobras.
Conforme o Estadão, esse quadro é o resultado da conta feita pelos
investigadores federais com base em valores de contratos fraudulentos, impostos
sonegados, crimes financeiros e cibernéticos, verbas públicas desviadas e até
mesmo danos ambientais causados por empresas, madeireiras e garimpos. Tudo
misturado ao pagamento de propina a agentes públicos e políticos.
Os dados são da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado
(Dicor), da PF, e foram obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à
Informação (LAI).
Segundo especialistas em máfias e grupos criminosos, a análise dos
números mostra a mudança do perfil do trabalho da PF, priorizando a
investigação patrimonial das organizações. De fato, nos últimos três
anos, esse montante cresceu ano a ano, partindo de R$ 6,8 bilhões em 2014 até
atingir R$ 80 bilhões em 2016, um aumento de 1.068%. Os valores sequestrados ou
recuperados com as operações também aumentaram ano a ano. Em 2013, a Dicor
listou R$ 6 milhões. Já no seguinte – início da Lava Jato – esse número subiu
para R$ 2,6 bilhões e, em 2016, atingiu R$ 12,4 bilhões.
“Isso também mostra as prioridades adotadas pela Polícia Federal”, disse
ao Estadão, o juiz aposentado e ex-secretário nacional antidrogas Wálter
Maierovitch, que participou como perito convidado da Convenção de Palermo.
Organizada pelas Nações Unidas em 2000, a convenção, da qual o Brasil é
signatário, definiu as regras de combate ao crime organizado. Escalada
semelhante de valores pode ainda ser observada naquilo que os agentes federais
chamam de “prejuízos evitados”, quando a operação interrompe a prática de
crimes, antes que eles se consumem. Nesse caso, os valores subiram de R$ 2,8
bilhões em 2014 para chegar a R$ 59,1 bilhões em 2016 – e já teriam atingido R$
12,4 bilhões no primeiro trimestre deste ano. “O objetivo é asfixiar essas
organizações, pois não adianta nada investigar autoria e materialidade se não
se consegue recuperar o patrimônio”, disse Mendonça.
Ainda segundo o Estadão, além do enfoque na descoberta e no sequestro
dos bens das organizações criminosas, os números também mostrariam o efeito da
disseminação do estilo de investigação adotado pela Lava Jato, em Curitiba, com
a criação de forças-tarefa envolvendo diversos órgãos. “O que a força-tarefa de
Curitiba trouxe é essa forma nova de investigar”, disse Mendonça, que participa
da forças-tarefa da Lava Jato e hoje atua nas Operações Greenfield e Custo
Brasil, que investiga fraudes e corrupção no Ministério do Planejamento no
governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio
Lamachia, a PF tem de cumprir seu papel e sua missão em todos os aspectos e
espectros onde tem criminalidade dentro de sua competência. “É isso o que a
sociedade espera da corporação.” E são muito os afetados. Quase 2 milhão de
beneficiários de fundos de pensão investigados na Greenfield tiveram de arcar
com parte dos prejuízos gerados. “A gente se sente impotente diante de tudo o
que aconteceu e é preciso botar a boca no trombone para não ocorrer outra vez”,
disse Suzy Cristiny Costa, da Fentect, federação do servidores dos Correios.
Ranking: Entre os dez maiores prejuízos investigados pela PF, além dos apurados
pela Greenfield e Lava Jato, estão os causados pelas organizações criminosas
que são alvo das Operações Acrônimo, que apura o desvio de verbas e
financiamento ilícito de campanhas eleitorais, e Zelotes, que averigua crimes
tributários e corrupção no Conselho de Administração de Recursos Fiscais
(Carf), órgão do Ministério da Fazenda.
Há ainda os casos envolvendo as Operações Enredados – R$ 5,1 bilhões de
prejuízo – em que os agentes federais apuraram crimes ambientais e pagamento de
propinas no extinto Ministério da Pesca, e esquemas de fraudes tributárias,
contrabando e evasão de divisas apurados nas Operações Celeno, Valeta e Huno. A
lista é completada pela Janus, que verifica supostas fraudes no financiamento
do BNDES para obras da Odebrecht em Angola. (Via: BNews)
Blog: O Povo com a Notícia