O Supremo Tribunal Federal (STF) julgou constitucional a Lei 16.897/2018 do Município de São Paulo, que proíbe o manuseio, a utilização, a queima e a soltura de fogos de estampido e de artifício e de artefatos pirotécnicos de efeito sonoro ruidoso. A decisão foi tomada no julgamento pela improcedência da Arguição de Descumprimento de Fundamental (ADPF) 567 ajuizada pela Associação Brasileira de Pirotecnia (Assobrapi).
Na ADPF, a entidade alegou que a lei local conflitaria com a legislação
federal e estadual sobre a matéria, desrespeitando o princípio federativo
previsto na Constituição Federal. Apontou, ainda, invasão da competência da
União e extrapolação da competência suplementar e restrita ao interesse local.
O Plenário afastou essas alegações ao seguir o voto do relator, ministro
Alexandre de Moraes. Segundo ele, a lei procurou promover um padrão mais
elevado de proteção à saúde e ao meio ambiente e foi editada dentro de limites
razoáveis do regular exercício de competência legislativa pelo município.
Pessoas com autismo
Em seu voto, o relator traz informações da audiência pública que
precedeu a edição da lei, em que foram abordados os impactos negativos que
esses fogos causam à saúde de pessoas com transtornos do espectro autista com
hipersensibilidade auditiva e os prejuízos que acarretam à vida animal. Segundo
um artigo científico anexado ao processo, 63% dessas pessoas não suportam
estímulos acima de 80 decibéis, enquanto a poluição sonora advinda da explosão
de fogos de artifício pode alcançar de 150 a 175 decibéis.
O ministro registrou que dados do Center of Diseases and Prevention,
órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, apontam a existência de um caso de
autismo a cada 110 pessoas. Portanto, considerada a população de cerca de 12
milhões de habitantes do Município de São Paulo, é possível estimar que a
vedação à utilização dos fogos beneficia cerca de 110 mil pessoas. “A lei
paulistana, assim, tem por objetivo a tutela do bem-estar e da saúde da
população de autistas residente no município”, afirmou.
Proteção aos animais
Quanto à proteção ao meio ambiente, o ministro mencionou estudos
científicos que demonstram os danos que o ruído dos fogos de artifício
acarretam a diversas espécies animais. Para ele, o fato de a lei restringir
apenas a utilização desse tipo de fogos “parece conciliar razoavelmente os
interesses em conflito”. Ele frisou que a norma, explicitamente, excetua da
proibição os fogos de vista, que produzem efeitos visuais sem estampido, assim
como os similares que acarretam barulho de baixa intensidade.
Normas mais protetivas
Ao afastar o argumento da Assobrapi de invasão da competência
legislativa da União para legislar sobre o tema, o relator ressaltou que a
proteção à saúde e ao meio ambiente concernem à atuação de todos os entes da federação
e que a jurisprudência do STF permite aos estados e aos municípios editar
normas mais protetivas, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na
preponderância de seu interesse.
Divergência
Ficou vencido o ministro Edson Fachin, que, apesar de concordar com o
mérito, entendeu que a ação não atende ao requisito da subsidiariedade e votou
pelo não conhecimento da ADPF.
Processo relacionado: ADPF 567
Fonte: Supremo Tribunal Federal
Blog: O Povo com a Notícia