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terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Em um ano, nenhuma criança nasceu em 35 cidades de Pernambuco; saiba por que é difícil dar à luz no estado

 Érica Paloma deu à luz Elisa, no início de novembro, no município de Afogados da Ingazeira, no Sertão — Foto: Arquivo pessoal

Não nasceu ninguém em 35 municípios pernambucanos e no Arquipélago de Fernando de Noronha em um ano inteiro. Longe de demonstrar que a taxa de natalidade dessas cidades está caindo, o dado reflete a realidade de diversas cidades do estado onde não há estrutura para atendimento obstétrico e ginecológico.

O levantamento, feito pelo Tesouro Nacional, analisou 50% de todos os atendimentos do Sistema Único em Saúde (SUS) no estado em 2021, ano dos dados consolidados mais recentes. O Tesouro faz esse tipo de análise para acompanhar onde e de que forma os recursos públicos são aplicados.

A ausência de casas de parto e maternidades faz com as gestantes residentes no estado precisem viajar até centenas de quilômetros para realizarem alguns procedimentos do pré-natal e também para darem à luz. Mais de metade das pernambucanas deu à luz em uma cidade diferente da que vive, no período analisado.

Moradora da área rural de Ingazeira, a agricultura Érica Paloma (foto), de 28 anos, foi uma dessas gestantes que precisaram buscar atendimento noutro município, tanto para realizar acompanhamento especializado durante o pré-natal, quanto na hora do parto da pequena Elisa, que nasceu no início de novembro.

Com risco de trombose, Érica precisou viajar para a capital, inicialmente, uma vez por mês, e depois, a cada 15 dias, desde o quarto mês de gestação, para realizar acompanhamento com hematologista no Instituto de Medicina Integral Fernando Filgueiras (Imip).

A rotina de viagens com 6h30 de duração foi desafiadora, segundo Érica.

“Era sempre à noite, para chegar no Recife de manhã, para as consultas; e o retorno era no mesmo dia. Foi muito cansativo. Principalmente no final do pré-natal, foi bem incômodo para mim. Quando foi chegando perto do parto, a médica liberou para que eu tivesse minha filha em Afogados da Ingazeira (a 20 minutos de distância). Foi melhor, porque o meu marido pôde acompanhar”, contou Érica Paloma, que teve Elisa com 39 semanas de gestação.

Os dados do Tesouro Nacional mostram 52.835 atendimentos relacionados a partos e obstetrícia a mulheres residentes em Pernambuco. Foram 32.205 partos de mulheres residentes no estado, das quais 16.179 (50,25%) precisaram ser deslocadas de município para parir.

Secretária de Saúde de Ingazeira, a 388 quilômetros do Recife, no Sertão de Pernambuco, Fabiana Torres explica as condições que fizeram o município aparecer na lista das cidades onde não nasceu ninguém em 2021.

Ela diz que, apesar de atender a todos os parâmetros exigidos pela “Rede Cegonha” – que dá suporte às mulheres no planejamento reprodutivo e na atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério – a cidade sertaneja não tem condições de manter a estrutura exigida para a realização de partos.

“Para realizar partos, o HPP (Hospital de Pequeno Porte) do município teria que ter uma equipe médica completa de plantão, com todos os profissionais. Mas a cidade recebe por mês, do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) para a Saúde, um valor que varia entre R$ 9.450 e R$ 9.600. Apesar de a gente ser bem referenciado no atendimento pré-natal, oferecendo todos os exames às gestantes, transporte para os casos de alto risco, medicação, taxa zero de mortalidade e também em relação ao pré-natal do parceiro, o município não tem condições de manter uma equipe completa de plantão para a realização dos partos”, explicou a secretária de Saúde.

No caso de Ingazeira, Fabiana Torres explica que só acontecem partos no município quando a mulher já chega com o bebê “coroando” na unidade de saúde e não dá tempo de fazer a transferência para Afogados da Ingazeira – que fica a cerca de 20 minutos de carro e atende as gestantes no Hospital Regional Emília Câmera.

Nos casos mais complicados e de gestação de risco, as mulheres precisam ser transferidas para o Recife, numa viagem que demora, pelo menos, seis horas.

Municípios concentram atendimentos

Na outra ponta, alguns municípios concentram um percentual de nascimentos maior do que o número de mulheres gestantes (grávidas).

Considerando apenas mulheres que residem em Pernambuco, os municípios que mais receberam grávidas foram: Recife (5.475), Caruaru (1.503), Palmares (1.147), Garanhuns (1.039), Arcoverde (872), Vitória de Santo Antão (824), Nazaré da Mata (819), Araripina (549), Ouricuri (546) e Olinda (488).

Numericamente, os municípios com maior número mulheres que tiveram seus filhos noutros municípios foram: Jaboatão dos Guararapes (1.053), Olinda (679), Paulista (608 – quase todos os bebês nasceram fora), Camaragibe (280), Petrolina (269), Igarassu(268), Cabo de Santo Agostinho (263), Ipubi (257), Moreno (241) e Abreu e Lima (236).

No outro extremo, estão as 35 cidades citadas no início dessa reportagem, onde nenhuma das gestantes residente conseguiu ter seu filho no local em que vivem. (Via: G1 PE)

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