O pastor Marcos Pereira, 56, da Assembleia de Deus dos Últimos dias está preso desde 8 de maio no presídio Bangu 9, no Rio de Janeiro. Em uma cela isolada, ele continua pregando. Famoso por ter convertido bandidos em cultos nas penitenciárias, ele agora vive numa. Mas não deixou de pregar.
Segundo testemunhos de presos, ele costuma dar breves mensagens e, colocando as mãos para fora das grades, ora em voz alta com e pelos detentos que estão em celas próximas.
Ele não pode tomar banho de sol junto dos outros presos, pois se recusa a tirar a camisa, alegando motivos religiosos. Mais magro, ele perdeu recentemente um dos dentes da frente.
No passado, Pereira ajudou a controlar rebeliões em presídios. Sua igreja afirma ter dez mil membros. No início do ano passado, surgiram contra ele acusações de José Júnior, coordenador da ONG AfroReggae. Rogério Menezes, pastor que trabalhou com Pereira, colaborou nas denúncias. Um ano e meio depois do início das investigações, o pastor Marcos ainda não foi julgado.
O caso continua envolto em acusações fortes. José Junior o chamou de “a maior mente criminosa do Rio”. Também afirma que o pastor tem um plano para matá-lo. Desde então, Júnior vive sob escolta policial. Recentemente sua ONG teve a unidade do complexo do Alemão incendiada e a da Vila Cruzeiro metralhada. Para ele, tudo ocorreu a mando do pastor, que seria o responsável pela “transferência de chefes de facções de penitenciárias”.
A lista de acusações contra Pereira não é pequena, incluindo desde associação ao tráfico até lavagem de dinheiro. Nenhuma foi comprovada ainda. Mas as que levaram à prisão são as suspeitas de ter praticado mais de 20 estupros contra mulheres. Oito delas fizeram denúncia formal à polícia. Apenas dois deles viraram processos. Quatro já prescreveram e dois outros continuam sob investigação.
Além disso, ele se defende na justiça das acusações de crime ambiental na fazenda onde funciona um centro de recuperação, por ameaçar vítimas, por coação de testemunhas e por ter encomendado o assassinato de um fiel que queria denunciar suas ações. Embora muitos fatos constantes nos processos teria ocorrido há muitos anos, já prescreveram e já ocorreram desistências de parte das testemunhas.
Numa entrevista publicada à revista ISTOÉ, o coordenador do AfroReggae acusa a existência de um lobby da bancada evangélica da Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro para libertar o líder religioso.
“O que mais me surpreendeu não foi a reação do narcotráfico (com quem o pastor é acusado de estar associado), mas a do efetivo de parlamentares que o apoiam”, dispara. “Quando fiz a denúncia contra o pastor, sabia que estaria atingindo um alvo muito poderoso. Já fui aconselhado até a sair do País, mas não saio nem volto atrás”, finaliza.
O delegado titular da Delegacia de Combate às Drogas, Márcio Dubugras, que apura o caso, afirma “Ele [Pereira] demonstra ter relação íntima com os chefes do Comando Vermelho”. Em uma conversa gravada com autorização da Justiça, no dia 10 de maio, os conhecidos traficantes Fernandinho Beira-Mar e Marcinho VP, que estão numa penitenciária de segurança máxima, comentaram a prisão de Pereira.
Na mesma conversa, teriam mandado punir José Júnior, do AfroReggae. Pouco tempo depois, as sedes do AfroReggae foram incendiadas e metralhadas. Na mesma época o pastor decidiu retirar na justiça o processo aberto contra José Junior por denúncias falsas, onde pedia indenização por danos morais.
Em meio ao verdadeiro quebra-cabeça que esse caso se tornou, uma peça-chave desapareceu: a ex-mulher de Pereira, Ana Madureira da Silva. Embora tenha declarado em depoimento à policia e à Justiça que fora estuprada pelo pastor, ela postou um vídeo no YouTube em que dizia: “Eu quero dizer que isto é mentira. Ele não me estuprou. Estou cansada dessas galhofadas”. Desde então seu paradeiro é ignorado pela família.
Outros envolvidos no caso já gravaram vídeos desmentindo as denúncias feitas e acusando funcionários do AfroReggae de forçarem o seu depoimento.
Esta semana surgiu uma nova acusação: uma testemunha disse à polícia que viu Adelaide Nogueira dos Santos, 25, ser estrangulada em 2006, na Baixada Fluminense. Para ela, Pereira é o mandante. Adelaide era fiel da igreja e estaria preparando um dossiê contra o pastor. Essa testemunha deseja permanecer anônima e pediu proteção policial. Ela conta que só agora, após a prisão do pastor, decidiu contar tudo o que sabe.
A mãe da vítima, Amélia Pinheiro Batista, 65, confirmou as acusações e conta que foi ameaçada por seguidores da igreja. Duas outras mulheres que dizem ter sido estupradas pelo pastor fazem o mesmo tipo de afirmação.
No início do processo de coação a testemunhas, além do pastor, foram acusados Lúcio Oliveira Câmara Filho e Daniel Candeias da Silva, membros da Assembleia de Deus dos Últimos Dias. Devido a erros de procedimento do Ministério Público, o processo foi suspenso. O surgimento dessa nova denúncia fez com o que o procurador-geral de Justiça do Estado, Marfan Vieira, retomasse a denúncia à Justiça, apresentando esse novo testemunho.
Para o seu advogado, Luiz Carlos da Silva Neto o caso é simples: “Ele vai ser absolvido. Ofereceram dinheiro para as supostas vítimas”. Não há data prevista para o julgamento.
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Fonte: Isto É