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Congresso reestreia nesta
quarta-feira um espetáculo manjado. A coisa se passa numa nação alternativa.
Fora do prédio de Niemeyer, há um Brasil em pânico. Dentro, há um país
fictício. Fora, quando alguém fala em corrupção numa roda, é impossível mudar
de assunto. Pode-se, no máximo, mudar de corrupto. Dentro, pulsa um país sem
culpados nem inocentes. Um Brasil 100% feito de cúmplices. Uma nação onde nada
aconteceu.
Os congressistas propuseram e
aceitaram a tese segundo a qual nenhum deles deve nada. Muito menos
explicações. Há os delatados, os investigados, os denunciados, os réus… E há a
banda muda, que silencia diante da promiscuidade. É nesta ficção que nenhum
roteirista de teatro assinaria, para não passar por inverossímil, que o Congresso
reabre suas cortinas depois do recesso. Deputados e senadores tropeçam nos
corredores com o maior escândalo de corrupção da história. Mas fingem que ele
não está ali.
Nos últimos dois anos, uma Lava
Jato inexplicada no meio do Salão Verde da Câmara e do Salão Azul do Senado se
transformou em muitas coisas. Começou como um embaraço. Evoluiu para um hábito.
De repente, à medida que aumentava o número de encrencados, tornou-se parâmetro.
Há dois anos, os deputados
elegeram Eduardo Cunha para presidir a Câmara. E os senadores reelegeram Renan
Calheiros. O primeiro está preso. O segundo é réu numa ação penal e protagoniza
12 inquéritos.
Hoje, os favoritos ao comando das
duas Casas do Legislativo são alvos da megadelação da Odebrecht. Mas isso não é
assunto que mereça a perda de tempo de uma reflexão no Brasil alternativo que
está novamente em cartaz no Congresso.
Fora das cuias de Niemeyer — a da
Câmara virada para cima, a do Senado emborcada para baixo —, a democracia
representativa está jurada de morte. Dentro, ela se comporta como se estivesse
cheia de vida. (Por Joisas de Souza)
Blog: O Povo com a Notícia