O grande problema das
autocríticas é que ela sempre chegam tarde. No caso do Partido dos
Trabalhadores, a demora foi tão grande que a providência tornou-se
desnecessária. Ao reagir contra a mais nova denúncia da
procuradora-geral Raquel Dodge, o PT deixou claro que seu caso não é mais de
autoanálise, mas de autópsia.
Dodge acusou de corrupção e lavagem de dinheiro Lula, a presidente do PT
Gleisi Hoffmann, os ex-ministros petistas Antonio Palocci e Paulo Bernardo, o
empreiteiro Marcelo Odebrecht e um um ex-assessor de Gleisi: Leones Dall'Agnol.
De acordo com a denúncia, a Odebrecht trocou vantagens empresariais por propinas.
Coisa de US$ 40 milhões. Ou R$ 64 milhões, em moeda nacional. Parte da verba
foi passada a sujo em campanhas eleitorais, entre elas a de Gleisi.
A Executiva nacional do PT soltou uma nota. O conteúdo não é original. Um
redator qualquer limitou-se a apertar o botão da perseguição política. E a
resposta fluiu: “Mais uma vez a Procuradoria Geral da República, de maneira
irresponsável, formaliza denúncias sem provas a partir de delações negociadas
com criminosos em troca de benefícios penais e financeiros. […] Mais uma vez o
Ministério Público tenta criminalizar ações de governo citando fatos sem
conexão e de forma a atingir o PT e seus dirigentes.”
A nota reforça a sensação de que os petistas dividiram-se em três grupos:
há os presos, os que aguardam na fila e os que se comportam à maneira do
avestruz, enfiando a cabeça no silêncio. E a Executiva mantém o PT seu
labirinto:
“A denúncia irresponsável da Procuradoria vem no momento em que o
ex-presidente Lula, mesmo preso ilegalmente, lidera todas as pesquisas para ser
eleito o próximo presidente pela vontade do povo brasileiro.” Mais um pouco e
até a autópsia será desnecessária. Bastará emitir o atestado de óbito, anotando
no espaço dedicado à causa mortis:
“Cinismo crônico.” (Por Josias de Souza)
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