Embora se declare torcedor do São
Paulo, Michel Temer não é um entusiasta do futebol. Se frequentasse estádios,
talvez repetisse uma dúvida da grã-fina do cronista Nelson Rodrigues: “Quem é a
bola?”. Mesmo assim, Temer enxergou na Copa do Mundo uma oportunidade para
atenuar sua impopularidade de 82%.
O
presidente pendurou um vídeo nas redes sociais. Nele, estabeleceu com a
arquibancada uma conexão inexistente. ''A partir de agora, desaparecem todas as
diferenças, prevalece nossa alma verde e amarela”, disse ele. “Todos nós
estaremos juntos na mesma torcida, na mesma fé, na vitória de nosso país. É
hora de todos nos somarmos aos 11 que estarão no gramado''.
Como
se fosse pouco, Temer tentou atenuar a ruindade do seu governo exaltando a
excelência do time de Tite: ''É hora de acreditar na força da camisa
verde e amarela, no talento de nossos jogadores, na tradição da única seleção,
convenhamos, pentacampeã do mundo. O Brasil sempre é favorito. Os jogadores
unidos formam um time fortíssimo.''
O
truque de misturar bola com faixa presidencial é velho. Nasceu com os generais
da ditadura. Os passos seguintes já estão esboçados. Vencida a Copa, Temer
convidará os campeões ao Planalto, para fazer desajeitadas embaixadinhas ao
lado de um constrangido Neymar.
Em
2014, a Copa das Copas começou com uma vaia para a então presidente Dilma
Rousseff na partida inaugural, no Itaquerão. E terminou com o fiasco dos 7 a 1
na partida contra a Alemanha. Para sorte de Temer, a nova competição ocorre na
Rússia. A televisão lhe serve de escudo contra as vaias.
Com
seu vídeo, porém, Temer abusa da sorte. Ele cutuca a torcida com o pé, para ve
se ela morde. Se fosse possível, os 13 milhões de brasileiros que estão no olho
da rua se juntariam num estádio para endereçar um coro a Temer: “Me inclua fora
dessa.”
Supondo-se
que cada desempregado integre uma família de quatro membros, pelo menos 52
milhões de pessoas ouvirão uma voz vindo do fundo da consciência para avisar na
hora que forem assistir ao vídeo de Temer: “Farsante!”
Além
de flertar com o ridículo, a mensagem de Michel Temer deixa o brasileiro em
posição desconfortável. No próximo domingo, muitos talvez se sintam culpados ao
torcer para a seleção, imaginando que podem estar servindo aos interesses de
Temer. Outros talvez façam questão de berrar “fora, Temer” depois de comemorar
cada gol, para não ficar mal com os vizinhos.
A
menos de seis meses do dia em que será enviado de volta para casa, Temer já não
reúne condições de restaurar sua imagem. Faria um favor inestimável à
coletividade se tomasse chá de sumiço durante a Copa, deixando a torcida torcer
em paz. (Por Josias de Souza)
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