Ao entrar na sala de entrevistas
coletivas do Spartak Stadium, em Moscou, Tite estava mais solto do que nas
aparições anteriores nesta Copa do Mundo. Parecia não absorver a pressão que já
traz o simples fato de estar no local que vai dar à seleção brasileira o
direito de ficar na Rússia ou a determinação de voltar para casa. As palavras e
intervenções na coletiva eram muito bem escolhidas. Uma fala mais mansa, leve,
tentando descontrair o ambiente. Tudo planejado pelo técnico, conhecido por ser
um domador da oratória nas entrevistas. As informações são do jornal O Globo.
"Eu, estrategicamente, estou encontrando palavras no vocabulário para
que haja uma descontração maior, e a situação possa fluir de forma mais
tranquila. Eu não estou tranquilo, estou com expectativa", disse
Tite.
A postura de Tite se dá em um período em que há ventos de turbulência em
direção à seleção brasileira, tanto pelo desempenho na Copa do Mundo quanto
pelo que Neymar tem feito em campo, e até por causa da sequência de lesões no
grupo. A postura do treinador não é novidade. O ex-zagueiro uruguaio Lugano,
por exemplo, já disse em entrevista que considera Tite um "encantador de
serpentes".
Uma leitura possível para o comportamento na coletiva é que o técnico do
Brasil salta adiante dos convocados para tentar externar um ambiente de
confiança na seleção e passar a imagem de que não há motivo para crise, embora
reconheça o peso do jogo contra a Sérvia, na capital russa.
Tite não esperou nem sequer ser o alvo das perguntas para mostrar que
havia algo diferente. Bastou Miranda, eleito para ser o capitão da seleção no
próximo jogo, dar uma resposta que agradou ao treinador para Tite fazer a
primeira intervenção: Viram por que ele é escolhido?
Quando o zagueiro foi perguntado sobre o gol de cabeça que o Brasil levou
na estreia, diante da Suíça, Tite entrou no papo mais uma vez, tentando
minimizar de forma irreverente a estatística que gera preocupação em relação à
bola aérea defensiva brasileira: Gol que é falta não vale.
Tite usou uma oportunidade na coletiva até para fazer "piada"
sobre si mesmo, reconhecendo que errou o termo para denominar o coletivo de
lobos.
"Eu falei que a matilha precisa do lobo, e o lobo precisa da matilha.
Mas o conjunto de lobos não é matilha, é alcateia. Eu só me flagrei na terceira
vez" contou, sorrindo.
Como o próprio treinador "entregou" que estava, propositalmente,
em um dia no qual queria transparecer descontração, Tite foi indagado
diretamente sobre o tema. Foi o gancho para poder exaltar o grupo que forma a
seleção e a própria experiência acumulada na carreira de técnico.
"Quando olho para trás e vejo toda a trajetória que nossa seleção
fez, o momento que estivemos juntos... Quando começo a lembrar todo o passado,
a construção dessa campanha, a necessidade da força de cada um, de equilíbrio
emocional, para chegar até aqui. A comissão técnica e o quanto a gente procura
se preparar bem me gera expectativa, mas me gera confiança. Essa equipe está
calejada o suficiente para jogos importantes. Não é um discurso vão, otimista.
Está embasado. Trinta anos de bagagem, de estrada", finalizou o treinador.
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