Com quase quatro meses de
intervenção federal na segurança pública, os principais indicadores de
violência resistem a cair.
Nos últimos três meses, aumentaram as ocorrências de mortes em decorrência
de ação policial, e as mortes violentas tiveram leve alta. Por outro lado, houve queda
nos roubos de carga e a transeuntes.
A Folha comparou dados de março, abril e maio com os dos mesmos meses de
2017 — a intervenção foi decretada em 16 de fevereiro. Os números do trimestre mostram que o maior objetivo da
ação, a redução dos índices de violência, ainda está longe de ser alcançado.
O indicador de letalidade violenta, que reúne homicídio doloso, auto de
resistência, latrocínio e lesão corporal seguida de morte, alcançou 1.766
ocorrências no período — aumento de 29 casos (1,7%) em relação às 1.737 mortes
violentas de março a maio de 2017.
Já o indicador de autos de resistência, que identifica mortes em
decorrência de confrontos com policiais, teve alta mais significativa — de 300
no trimestre encerrado em maio do ano passado para 344 neste ano, aumento de
14,7%.
Os indicadores são do ISP (Instituto de Segurança Pública) que, contudo,
ainda não divulgou as estatísticas de maio. Em evento com empresários na quarta
(13), o general Braga Netto apresentou os números do último mês, passíveis
ainda de pequenas mudanças.
A Folha compilou as informações do general com as do instituto para chegar
aos números desta reportagem.
A socióloga Silvia Ramos, que coordena os trabalhos do Observatório da
Intervenção Federal, órgão externo de acompanhamento dos trabalhos no Rio,
criticou as constantes mortes em confrontos.
Segundo ela, seria importante que a intervenção trouxesse ao Rio uma nova
visão de segurança pública, que fosse menos baseada em operações policiais em
áreas carentes do estado. A pesquisadora pediu mais transparência às ações que
resultem em morte.
“Quando, sob intervenção, a polícia faz coisas típicas das que a levaram a
perder sua credibilidade junto à população, a gente fica preocupado”, disse ela
no evento na quarta.
Ramos se referia às suspeitas acerca de mortes ocorridas na semana passada
na Urca, zona sul do Rio. Policiais mataram ao menos sete criminosos numa
operação no Leme, zona sul, que terminou em tiroteio no bairro vizinho da Urca,
numa área conhecida por ser turística e também base de vários prédios
militares.
Um helicóptero da PM foi visto disparando contra os criminosos. No dia
seguinte, sete corpos foram resgatados.
Segundo Ramos, quando a intervenção se baseia unicamente na política de
confrontos e operações policiais, ela perde a oportunidade de mudar paradigmas
no modelo de segurança pública no Rio.
“É evidente que reduzir tiroteios é também aumentar a sensação de segurança.
Quando a polícia, no seu dever, em legítima defesa, mata um opositor, é
importante que se esclareçam as circunstâncias. As forças de intervenção têm de
ser a favor da legalidade.”
O indicador de homicídios dolosos (intencionais) permaneceu estável de
março a maio deste ano, frente a igual período do ano passado. Foram 1.357
ocorrências no período, contra 1.359 no trimestre equivalente de 2017.
Contudo, a intervenção conseguiu reduzir indicadores de roubo, que
impactam a sensação de segurança.
O índice de roubos de rua (a transeunte, de celular e em coletivo), somou
33.310 ocorrências no período, queda de 2.529 casos ou 7% em relação a igual
período do ano passado.
O roubo de carga, que havia disparado no Rio e foi um dos principais
motivos para o decreto da intervenção federal, também caiu. De março a abril
deste ano foram 2.561 ocorrências, contra 3.053 em 2017— queda de 16,1% no
período.
Os roubos de veículos ficaram estáveis, passando de 14.489 de março a maio
de 2017 para 14.388 em igual período deste ano, diferença de 0,7%.
Apesar dos quase quatro meses de atuação no Rio, a intervenção apresentou
somente nesta quinta (14) seu plano estratégico ao presidente Michel Temer.
Segundo Braga Netto, as bases do plano já estavam definidas e em andamento
antes da entrega do documento de 82 páginas.
Os principais pontos já são conhecidos: redução dos índices de
criminalidade, aumento da sensação de segurança e retomada da capacidade
operativa das polícias.
A despeito de o documento listar o general Mauro Sinott Lopes como o
segundo na hierarquia da intervenção federal do Rio, o militar deixou o posto
na semana passada.
Considerado o braço direito de Braga Netto, Sinott deixou o cargo para
assumir o comando da 3ª Divisão do Exército, em Santa Maria (RS). (Via: Folhapress)
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