Os moradores de Ipubi, no Sertão de Pernambuco, têm sofrido bastante com a seca. São meses sem chuva e sem água nas torneiras dos 28 mil moradores. Algumas medidas que poderiam ajudar, como a instalação de cisternas para a captação da água da chuva, não funcionam. O drama foi mostrado em reportagem exibida pelo NETV 2ª Edição deste sábado (30).
Na casa da professora Francisca Vieira não chega água há mais de 40 dias, mas a conta não atrasa. “Está aqui a conta, R$ 55,18”, mostrou. Enquanto isso, pela cidade, o comércio da água prospera. José Cláudio da Silva já foi vaqueiro. Hoje, fatura vendendo água no lombo do jegue. “Eu ‘boto’ dez, 12, viagens por dia, até 15”, disse.
Os moradores reclamam dessa despesa extra. “Estou gastando R$ 14 reais por tambor. Colocar cinco tambores de água custa R$ 70, e isso aqui não dá para uma semana”, reclamou a dona de casa Suzete Bezerra.
Na Zona Rural de Ipubi, a situação é mais grave: 608 famílias se cadastraram para receber uma cisterna. Elas não têm como armazenar a água e, por isso, precisam usar todo tipo de reservatório e contam com a solidariedade do vizinho que tem uma cisterna. É o que faz a agricultora Raimunda Maria de Jesus. Ela tem sete filhos e pequenos animais para matar a sede. “Faz muita falta [uma cisterna]. Estamos esperando por uma há quase um ano. Tem dia que meus filhos não vão nem para aula por causa da falta d’água”, lamentou.
A cisterna que dona Raimunda está esperando já chegou desde julho e está no antigo matadouro de Ipubi, com outras 49 cisternas aguardando a instalação. O local não tem cerca e fica ao lado de um depósito de lixo. Duas cisternas já estão danificadas. Cada uma custa R$ 5.800, incluindo a despesa com a instalação. Seiscentas cisternas deveriam ter sido destinadas a Ipubi. São quatro meses de atraso e muita preocupação de quem continua esperando.
Janeiro marca o início da estação chuvosa no Sertão pernambucano e é preciso instalar as cisternas a tempo de armazenar a água que cai do céu para atravessar o período de escassez que sempre vem depois. O desperdício do período chuvoso é quase uma certeza para as 600 famílias de Ipubi. “Essas medidas deveriam ser imediatas, emergenciais e, infelizmente, por conta da burocracia do Governo Federal, estas ações não chegam ao município”, criticou o prefeito de Ipubi, João Marcos Siqueira.
A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), responsável pela execução do programa Água Para Todos em Pernambuco, reconhece que a decisão do Tribunal de Contas que suspendeu o processo de licitação para a compra das cisternas atrasou a instalação. “Nossa preocupação foi praticar o procedimento e amanhã ser contestado e causar um mal maior”, explicou o gerente regional de revitalização da Codevasf, Augusto Beserra.
O gerente não deu prazo para iniciar o serviço e afirmou que há risco de as cisternas não serem instaladas antes do período chuvoso. “A cronologia do processo contava que a licitação, que ocorreu em Brasília há três meses, tivesse levado a cabo as cisternas adquiridas, e a gente estaria contratando empresa para instalação. Por isso, decidimos sanar o problema e iniciar tudo com a orientação do Tribunal”, disse.
A Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) informou que o fornecimento de água de Ipubi está prejudicado há 30 dias por causa de um problema eletromecânico no sistema de abastecimento. A empresa afirmou que na próxima segunda-feira (2) será definido quando o abastecimento voltará ao normal.
Blog: O Povo com a Notícia