Dilma Rousseff irritou-se ao
saber que Joaquim Levy dissera que ela nem sempre age da forma mais simples e
eficaz. Abespinhou-se tanto que determinou ao ministro-chefe da Casa Civil,
Aloizio Mercadante, que transmitisse sua contrariedade ao colega. O recado da
presidente foi repassado por Mercadnate a Levy por telefone, no sábado — dia em
que a notícia sobre o sincericídio de Levy veio à luz.
Deve-se aos
repórteres Ricardo Della Coletta e Fábio Brandt a informação sobre a reação de Dilma. O comentário que
desagradou a presidente escorregou dos lábios de Levy na terça-feira da semana
passada. Deu-se a portas fechadas, numa conversa com ex-alunos da Universidade
de Chicago.
Expressando-se
em língua inglesa, Levy disse: “Acho que há um desejo genuíno da presidente de
acertar as coisas, às vezes, não da maneira mais fácil… Não da maneira mais
efetiva, mas há um desejo genuíno''. Para infortúnio do ministro, suas palavras
foram gravadas. E a repórter Joana Cunha fez soar o áudio no site da Folha.
Após
conversar com Mercadante, Levy tentou, sem muito sucesso, reposicionar-se em
cena. Mandou divulgar uma nota. No miolo do texto, anotou:
“O
ministro sublinha que os elementos dessa fala são os seguintes: aqueles que têm
a honra de encontrarem-se ministros sabem que a orientação da política do
governo é genuína, reconhecem que o cumprimento de seus deveres exige ações
difíceis, inclusive da Exma Sra. Presidente, Dilma Rousseff, e eles têm a
humildade de reconhecer que nem todas as medidas tomadas têm a efetividade
esperada”.
O
receio do governo é o de que a crítica mal explicada sirva de munição para
opositores e governistas rebelados que conspiram no Congresso contra o ajuste
fiscal do governo. Um risco que Dilma preferia não correr numa semana em que o
Senado ameaça aprovar proposta que obriga o governo a tirar do papel, em 30
dias, a lei que renegocia as dívidas de Estados e municípios com índices
menores de correção.
O
ruído provocado pela revelação da frase de Levy ecoa às vésperas do
comparecimento do ministro à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Conforme compromisso que assumira na semana passada, Levy vai expor aos
senadores, nesta terça-feira,
os planos econômicos do governo.
Levy
espera que suas palavras inspirem o presidente do Senado, Renan Calheiros, e
seus pares a retirar de pauta de votações do Senado a proposta que dá um
refresco anual de R$ 3 bilhões a Estados e municípios endividados até a raiz
dos cabelos dos contribuintes. A hipótese de isso ocorrer parece, por ora,
remota.
Para
complicar, argumenta-se no Planalto, os comentários de Levy levaram água para o
moinho dos contrários. Ora, se nem o ministro da Fazenda considera eficazes as
ações de sua chefe, por que os congressistas deveriam dar crédito ao governo?
A
despeito da alegada irritação, Dilma optou por não divulgar uma reprimenda
pública a Levy. Cogita tratar do assunto quando for provocada por repórteres,
numa de suas aparições públicas. Mas parece ter optado pela contemporização.
Natural. A eventual saída de Levy criaria dificuldades bem maiores que os sapos
que Dilma vê-se obrigada a engolir. Melhor dissolver um Alkaseltzer e reduzir
tudo a uma tempestade em copo d'água. (Por Josias de Souza)
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