Dentro de quatro dias, Joaquim
Levy falará à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O presidente da Casa,
Renan Calheiros, disse a um grupo de senadores que espera muito da participação
do ministro da Fazenda. Com ironia escorrendo pela quina da boca, manifestou a
certeza de que o auxiliar de Dilma Rousseff trará à luz um plano econômico.
Algo com “começo, meio e fim.”
Um
dos senadores presentes dobrou a taxa de ironia: “Ele certamente já tem esse plano
pronto.” E Renan: “Se não estiver pronto, o ministro tem todo o final de semana
para preparar o Plano Levy.” Do contrário, os senadores ameaçam aprovar duas
propostas que a pasta da Fazenda considera radioativas.
Uma
delas obriga o governo a aplicar em 30 dias a lei que beneficia Estados e
municípios com índices mais brandos de correção de suas dívidas com a União. A
outra legaliza incentivos tributários concedidos por governadores e prefeitos
de todo país na chamada “guerra fiscal”.
Empenhado
em evitar as duas votações, Levy obteve de Renan apenas o final de semana, para
elaborar um plano em cima das pernas. Deve-se o inusitado da situação a uma
anomalia: sob Dilma, o ministro da Fazenda tornou-se o principal articulador do
governo no Congresso.
Na
falta de mão de obra especializada, Levy faz um bico na articulação política do
governo. Nos últimos dias, funcionou como um fusível que retardou o
curto-circuito na ligação do governo Dilma com seus supostos aliados. O
Planalto estimula a ação do ministro da Fazenda sem se dar conta dos riscos. Se
der errado, Levy sairá da experiência com a autoridade e a paciência
eletrocutadas. Algo que pode resultar num apagão da equipe econômica do
governo.
Trazido
do Bradesco por Dilma para gerir a crise econômica que ela própria criou, Levy
tentou tratar o imponderável com precisão. Fixou para 2015 uma meta de
superávit de 1,2% do PIB. Mas sua previsão só é científica até onde começa o
mistério do comportamento humano e do PMDB.
Levy
elaborou as primeiras medidas do seu ajuste fiscal. Apertou os botões que achou
que deveriam ser apertados. Agora, tenta influir no comportamento de seres
terríveis e imprevisíveis como Renan Calheiros e Eduardo Cunha, o presidente da
Câmara. De resto, o ministro se pergunta: o PMDB vai gostar? Os peemedebistas
vão cooperar? E o PT? E o resto do condomínio? E quanto a mim, o que diabos
estou fazendo aqui?
Líder
do PSDB, o senador Cássio Cunha Lima participou de uma das reuniões estreladas
por Levy no Legislativo. Achou-o esforçado. Mas diz que lhe falta o necessário
“traquejo” para a articulação. Observador arguto, o ex-ministro peemedebista
Geddel Vieira Lima notou um progresso na cintura do ministro da Fazenda. “O
Levy participa de tantos jantares e almoços com parlamentares que já ganhou peso.
Mais um pouco e fica obeso.” (Por Josias de Souza)
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