Sempre que não sabe o que fazer,
Dilma Rousseff propõe o “diálogo”. Nesta semana, dialogará “com a sociedade”
numa reunião com empresários, sindicalistas e brasileiros notáveis do Conselho
de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão. Por meio do ministro Jaques
Wagner (Casa Civil), consultará lideranças do Congresso, inclusive
oposicionistas, sobre a disposição de negociar uma pauta comum de votações. As
iniciativas flertam com a perda de tempo.
Antes
de dialogar com terceiros, Dilma precisa ter uma boa conversa com o espelho. Se
a troca de ideias com seu reflexo for sincera, a presidente talvez se convença
de duas coisas essenciais: 1) Sua credibilidade evaporou porque a reeleição
foi obtida numa campanha baseada na empulhação; 2) Seu governo
descolou-se da realidade quando se apaixonou pelas teses segundo as quais a
crise é internacional e a ruína econômica, por “transitória”, será superada
rapidamente no Brasil.
Em
outubro de 2014, após prevalecer sobre Aécio Neves por uma diferença de pouco
mais de 3 milhões de votos, Dilma declarou no discurso da vitória: “Essa
presidente está disposta ao diálogo, e esse é meu primeiro compromisso no
segundo mandato: o diálogo. […] O calor liberado no fragor da disputa pode e
deve agora ser transformado em energia construtiva de um novo momento no
Brasil.” Era lorota. A energia virou vapor.
Em
dezembro de 2014, ao receber no Tribunal Superior Eleitoral o diploma de
presidente reeleita, Dilma expandiu-se: “Chegou a hora de firmarmos um grande
pacto nacional contra a corrupção, envolvendo todos os setores da sociedade e
todas as esferas de governo.” Ela avisou: “Vou convidar todos os Poderes da
República e todas as forças vivas da sociedade para elaborarmos, juntos, uma
série de medidas e compromissos duradouros.” Era papo furado.
Hoje,
Dilma estende a mão para a oposição num dia e chama os rivais de “golpistas” na
manhã seguinte. Na área da corrupção, afora um desabafo enviesado —“não confio
em delatores”— a maior contribuição de Dilma foi o recente envio ao Congresso
de medida provisória que cria as condições para que empresas confessadamente
corruptas voltem a firmar contratos com o governo.
Movida
por verdades próprias, Dilma sustenta a fábula de que seu governo tem projeto.
Entretanto, além da recriação da CPMF, suas únicas prioridades visíveis são:
não cair e continuar passando a impressão de que comanda. De resto,
notabiliza-se como inventora do diálogo de mão única. (Via: Josias de Souza)
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