Por
Ricardo Boechat
Com justa razão, as festejadas
(e tardias) prisões de Anthony Garotinho e Sergio Cabral varreram das
manchetes, nos últimos dias, alguns temas que vinham alimentando o noticiário e
as redes sociais. A confissão de que a Andrade Gutierrez irrigou com propina de
R$ 1 milhão a campanha de Michel Temer em 2014; o colapso geral do RJ, a
ocupação de escolas e até as discussões sobre o fim do mundo pós-Trump perderam
destaque ante as manifestações com que os cariocas saudaram a chegada dos
ex-governadores à República de Bangu.
Passada a festa, contudo, é
preciso voltar à vaca fria. Entre o que ficou em segundo plano destaca-se uma
disputa que pode produzir mudanças relevantes no País. Trata-se da queda de
braço entre marechais do Judiciário, do Ministério Público e do Legislativo em
torno de questões envolvendo a aprovação de leis ou medidas que, de um lado,
combatem a impunidade dos corruptos e, de outro, pretendem conter a orgia
remuneratória no funcionalismo de alto escalão, onde a soma de vencimentos e
jabuticabas corporativas produzem contracheques de até R$ 200 mil.
No
ringue ouvem-se brados denunciando as más intenções do corner oposto. Diante da
criação de uma comissão no Senado para flagrar supersalários no setor público,
o olhar delirante da Associação dos Magistrados Brasileiros enxergou “um
processo de desconstrução do sistema de Justiça”, enquanto a relatora Kátia
Abreu, sinalizando pizza, garantiu que não fará “caça as bruxas”.
Por sua vez, vozes ilustres do
Congresso defendem a descriminalização do caixa dois nas campanhas eleitorais,
enquanto minam o projeto das Dez Medidas Contra a Corrupção e acusam promotores
e juízes de uma cruzada fundamentalista para criminalizar a classe política.
Como a capivara diante do
confronto entre a onça e o jacaré, os brasileiros devem acompanhar essa luta
torcendo pelo sucesso das duas feras. Quanto mais sangrarem nesses itens em
discussão, menos sofrerá a presa comum. O que interessa aos contribuintes é que
a legislação anticorrupção inspire medo e, ao mesmo tempo, que os ganhos
imorais nos Três Poderes saiam de nossos ombros. O resto é farofa.
Blog: O Povo com a Notícia