Sérgio Moro começou a ouvir as
testemunhas num dos processos em que Lula é réu. Arrolado pelo Ministério
Público Federal como testemunha de defesa, o ex-senador Delcício Amaral foi o
primeiro a depor. A banca de advogados do ex-presidente petista adotou como
principal tática de defesa o ataque ao juiz da Lava Jato. Os doutores
interromperam a audiência várias vezes. Quando Moro tentou colocar ordem na
audiência, foi acusado de cercear a defesa. A coisa descambou para o bate-boca.
O ápice da refrega verbal pode ser acompanhado a partir dos
21min53s do vídeo acima. A pedido de Delcídio, seu rosto não aparece. Mas o
áudio é alto e claro. Os defensores de Lula abespinharam-se com o rumo da inquirição
do procurador da República Diogo Castor de Mattos. Ele arrancava de Delcídio
informações sobre o aparelhamento da Petrobras e o conhecimento que Lula tinha
do esquema.
Áudio:
Áudio:
Um dos defensores do réu,
Cristiano Zanin Martins, interveio cinco vezes. Na quinta interrupção, disse a
Moro que o procurador formulava questões alheias ao objeto do processo, que
apura a suspeita de que a OAS bancou ilegalmente R$ 3,7 milhões em despesas de
Lula (a reforma do tríplex no Guarujá e o armazenamento das “tralhas” acumuladas
na Presidência), como contrapartida de três contratos firmados com a Petrobras.
Moro indeferiu “questão de ordem” do advogado e autorizou o
procurador a prosseguir com a inquirição de Delcídio. Deu-se, então, o rififi.
Cristiano disse ao juiz que ele próprio indefirira a produção de provas durante
a fase processual sob a alegação de que o caso se restringia a três contratos.
E Moro: ''Doutor, a defesa pediu cópias de todas as atas de licitações e os
contratos da Petrobras em 13 anos. É diferente de o Ministério Público fazer
uma pergunta para a testemunha nesse momento. Está indeferida essa questão,
podemos prosseguir.''
Cristiano não se deu por achado. ''Mas é uma questão de
ordem, Vossa Excelência tem que me ouvir!'' Irritado, Moro perguntou se a defesa
continuaria formulando uma questão de ordem a cada dois minutos. Realçou que,
“no momento próprio”, os advogados de Lula teriam a oportunidade de inquirir
Delcídio. Fora disso, as interrupções, por “inapropriadas”, serviam apenas para
“tumultuar” a audiência.
Nesse ponto, interveio outro advogado de Lula, José Roberto
Batochio. ''Pode ser inapropriado, mas é perfeitamente jurídico e legal.'' Moro
reiterou: ''Estão tumultuando a audiência.'' Batochio interrompeu o magistrado:
''O juiz preside, o regime é presidencialista. Mas o juiz não é dono do
processo. Aqui, os limites são a lei. A lei é a medida de todas as coisas. E a
lei do processo disciplina esta audiência. A defesa tem o direito de fazer uso
da palavra pela ordem.''
Batochio prosseguiu: “Ou o senhor quer eliminar a defesa? Eu
imaginei que isso já tivesse sido sepultado em 1945 pelos aliados. Vejo que
ressurge aqui, nesta região agrícola de nosso país”. Moro negou que a defesa
estivesse sendo cerceada. Reiterou que as indagações do procurador se inseriam
num determinado contexto. Quando o juiz esboçava a intenção de devolver a
palavra ao representante do Ministério Público, um terceiro advogado de Lula
foi à jugular: “Esse contexto só existe dentro da cabeça de Vossa Excelência!”
Moro mandou cortar o som dos microfones e interrompeu a
audiência. Retomou-a minutos depois. Conduziu-a aos trancos. Foi a audiência
mais tensa de toda a Operação Lava Jato. Só a falta de argumentos pode
justificar a tática da defesa de Lula. Os doutores não se deram conta. Mas, ao
comprar briga com Sergio Moro, transformam o processo numa espécie de Luta de
boxe em que Lula entra com a cara.
Se for condenado por Moro, hipótese na qual seus advogados
parecem apostar, Lula não terá senão a alternativa de recorrer ao Tribunal
Regional Federal sediado em Porto Alegre. Ali, os desembargadores não costumam
reformar decisões de Moro. Uma vez ratificada na segunda instância, a sentença
terá de ser executada. Se tudo correr mal para Lula, além de ficar inelegível,
o morubixaba do PT vai para a cadeia. Se tudo correr pior, a cana chega no
primeiro trimestre de 2017. (Via: Estadão - Blog do Josias de Souza)
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