Às vésperas da votação da
proposta de reforma da Previdência na comissão especial da Câmara, Michel Temer
deflagrou o processo de retaliação dos seus aliados infiéis. “A caneta vai
funcionar”, disse, referindo-se à demissão de apadrinhados dos deputados que
pularam a cerca na votação do projeto que modifica a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT). Reunido com 11 ministros e líderes partidários no Palácio da
Alvorada, em pleno feriado do Dia do Trabalhador, o presidente informou que a
primeira leva de exonerações será publicada no Diário Oficial desta terça-feira
(02).
Sob Dilma Rousseff, os silvérios do governo não perdiam por esperar. Ganhavam. Apunhalavam o Planalto no Legislativo, faziam pose para o eleitorado
e continuavam usufruindo de todas as benesses que a máquina pública é capaz de
bancar. Dilma fazia cara feia, ameaça cortar a ração de cargos e verbas, mas
acabava recuando. Deu no impeachment.
Herdeiro da mesma coligação gelatinosa que destronou a antecessora, Temer
decidiu evoluir da ameaça para a ação. Fez isso ao perceber que governistas
leais começavam a invejar os colegas infiéis, adeptos da tese segundo a qual,
num casamento com o governo, a felicidade conjugal, quando existe, é
extraconjugal. Em homenagem à fidelidade, Temer decidiu restringir o bônus do
governismo àqueles que revelam disposição para arrostar o ônus da aprovação de
medidas impopulares. “Não dá para ficar dos dois lados”, sintetizou um
ministro. “Votar contra e manter os cargos não é razoável.”
Estiveram com Temer os ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Eliseu
Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), Antonio
Imbassahy (Coordenação Política) e Mendonça Filho (Educação). Foram também ao
Alvorada os deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ), Agnaldo Ribeiro (PP-PB), Arthur
Maia (PPS-BA) e Heráclito Fortes (PSB-PI). Pelo Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
O encontro contou com a assessoria técnica do secretário de Previdência da
pasta da Fazenda, Marcelo Caetano.
Decidiu-se manter para esta quarta-feira (03) a votação da reforma da
Previdência na Comissão Especial. O colegiado tem 37 membros. Para prevalecer,
o governo precisa de maioria simples: 19 votos. Fez as contas e concluiu que
terá algo entre 23 e 25 votos. Fará um arrastão na comissão, para substituir
governistas claudicantes e preencher uma cadeira que está vaga. Além do
texto-base, será necessário votar emendas apresentadas pelos deputados.
Estima-se que parte da votação pode ficar para quinta-feira.
Vencida esta fase, a proposta seguirá para o plenário da Câmara. Ali,
Temer precisará de 308 votos. É esse o quórum mínimo exigido para aprovar, em
dois turnos de votação, uma emenda constitucional. O Planalto ainda não dispõe
de musculatura para levar tantos votos ao painel eletrônico da Câmara. A tropa
receia comprometer a própria reeleição em 2018, pois 71% dos brasileiros rejeitam a ideia de bulir com a Previdência. Na
votação da reforma trabalhista, também abominada por mais de 60% dos eleitores, exigia-se
maioria simples. E o governo cravou 296 votos. Não cogita levar a Previdência a
voto enquanto não tiver certeza de que dispõe de alguma coisa ao redor de 330
votos, duas dezenas além do necessário.
Foi para o beleléu a pretensão do governo travar a batalha da Previdência
no plenário da Câmara em 8 de maio. O Planalto se dará por satisfeito se conseguir
aprovar sua reforma até junho, antes das férias dos parlamentares. Nessa
hipótese, a apreciação da matéria no Senado ficaria para o segundo semestre.
Temer repetiu na reunião do Alvorada que não cogita autorizar novas alterações
no texto da reforma, já bem diferente do original. Seus aliados forçarão a
porta. (Via: Blog do Josias de Souza)
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