Responsável pelos processos da Operação Lava Jato em primeira instância em
Curitiba, o juiz federal Sergio Moro participou nesta
terça-feira de uma conferência em Estoril, Portugal. Ao lado do ex-procurador
italiano Antonio di Pietro, um dos investigadores da Operação Mãos Limpas,
deflagrada na Itália nos anos 1990, e do juiz português Carlos Alexandre,
responsável pela Operação Marquês, Moro falou sobre o combate
à corrupção e
o uso da delação premiada como ferramenta de
investigação.
Para o magistrado, a corrupção como prática disseminada na
relação entre políticos e empresários abala a confiança na democracia. “A
democracia é fundada em uma relação de confiança entre governantes e
governados. Mas em um contexto de corrupção sistêmica, essa relação de
confiança é extremamente abalada. Se as pessoas entendem que a prática de
crimes, que a trapaça, passam a ser uma regra de comportamento, isso afeta
significativamente a confiança que as pessoas mantêm no sistema democrático.
Esse é o principal aspecto negativo da corrupção sistêmica”, disse Moro.
O juiz federal afirmou que o que
chama de “corrupção sistêmica” é tão
grave quanto o crime organizado e defendeu, em seu
combate, o uso de ferramentas semelhantes às usadas contra grandes grupos criminosos,
a exemplo das delações premiadas.
“Se você tem um esquema de corrupção, é melhor ter isso
descoberto e algumas pessoas punidas nesse esquema do que tê-lo oculto para
sempre. Uma forma [de investigar] é usar um criminoso contra seus pares. É melhor
ter alguém condenado do que ninguém condenado. Nesses processos do Brasil, foi
extremamente importante para a expansão das investigações”, declarou Sergio
Moro, que citou um “efeito dominó” a partir da quebra de confiança dentro das
organizações criminosas.
O magistrado ainda disse que o Brasil está “dando passos
sérios e firmes no enfrentamento da corrupção sistêmica” e classificou a
apuração dos esquemas de corrupção na Petrobras, outras estatais e fundos de
pensão como “anseio da sociedade brasileira”.
“Embora se tenha visão negativa dos casos de corrupção que
estão sendo descobertos no Brasil, eu peço a todos que vejam esses casos em uma
outra perspectiva. É um anseio da sociedade brasileira para que tenhamos um
país mais limpo. Acredito que apesar de todas essas turbulências teremos um
país melhor, uma economia mais forte e com uma democracia de melhor qualidade”,
concluiu. (Via: Veja)
Blog: O Povo com a Notícia