O cenário de caos na Esplanada
nos Ministérios em Brasília na última semana pode ser repetir em outras
manifestações, na avaliação de especialistas ouvidos pelo HuffPost Brasil.
No maior
protesto após
a crise política do governo de Michel Temer motivada
pela delação da JBS, a polícia militar usou armas letais, ministérios foram
incendiados, depredados e pichados e 49 pessoas ficaram feridas.
Após o ato em Brasília na
última quarta-feira (24), Temer editou um decreto permitindo
a atuação das Forças Armadas no Distrito Federal até 31 de maio. A medida
foi revogada após
repercussão negativa. Para o cientista político Rudá
Ricci, a reação do governo federal pode agravar o cenário no País. Ele está ameaçando radicalizar o
País. Não está medindo o que está acontecendo. Está absolutamente frágil, com
popularidade próximo de zero e mobilizações nas ruas contra reformas. Em vez de
criar algum tipo de acordo, ele acelera as reformas e coloca o Exército na rua.
Um dia antes do protesto, o
PSDB, que continua ao lado do peemedebista, avançou com a reforma trabalhista
no Senado, dias após o relator da proposta, senador, Ricardo Ferraço (PSDB-ES)
afirmar que era preciso uma pausa na tramitação devido à crise política. O
texto pode ser votado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa na
próxima terça-feira (30).
As mudanças na lei trabalhista
foram, junto com a reforma da Previdência, motivo para a greve geral
em 28 de abril.
Temer é investigado no Supremo
Tribunal Federal (STF) por obstrução à Justiça, corrupção passiva e organização
criminosa no âmbito da Operação Lava Jato. Desde a divulgação da delação, o
presidente tem afirmado que não irá renunciar ao cargo.
Intolerância: Na avaliação do professor de
Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), Pablo
Ortellado, é preciso esperar para saber a reação da população, de modo geral, à
violência nas manifestações.
"Os protestos podem ser
lidos como gestos extremos que colocam os manifestantes como isolados do
sentimento público geral. Mas não me estranharia se uma parcela da população
visse os atos (de depredação) com uma certa condescendência", afirmou.
Ele ressalta que as bandeiras
dos manifestantes - contra a corrupção no governo Temer e as reformas
econômicas - encontram eco na sociedade, o que não acontecia nos primeiros
protestos contra o peemedebista. "As circunstâncias são de tal gravidade
que pode ser que essa manifestação mais contundente como nesta quarta-feira
casem um pouco com o que esperamos da opinião pública", afirmou.
Para Ortellano, as sucessivas
denúncias de corrupção e a demora na recuperação econômica estão gerando um
sentimento de insatisfação que "está chegando num limite" provocado
por uma percepção de um "governo sem legitimidade que está empurrando
medidas muito duras".
Adesão: A manifestação em Brasília
contou com 150 mil participantes segundo organizadores e 45 mil, de acordo com
a Secretaria de Segurança do Distrito Federal. O ato foi organizado por
movimentos sociais de esquerda, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e
a União Nacional dos Estudantes (UNE).
Na avaliação de Ricci, essas
entidades conseguiram se articular novamente na mobilização contra o governo,
após o PT deixar o poder. Ele acredita que brasileiros não-vinculados a esses
movimentos podem ir às ruas, se a pressão contra Temer se mantiver.
"Muitas pesquisas são
conclusivas de que a população brasileira não gosta de manifestações. A grande
maioria é a favor da ordem pública e não gosta de uma ação mais radical, mas ao
mesmo tempo, muitas pesquisas mostram que não há mais tolerância com o Temer e
com o PSDB. Hoje, ser aliado de Temer é ser impopular", afirma o
especialista.
Outro fator que contribui para
o cenário é a reprovação do governo de Michel Temer. De acordo com pesquisa
CNI/Ibope divulgada
em 31 de março, 55% dos entrevistados consideravam a gestão ruim ou
péssima. Em dezembro eram
46%.
A desaprovação da maneira de
governar subiu de 64% para 73% e a confiança no presidente caiu de 23% para 17%
na mesma base de comparação. (Via: MSN)
Blog: O Povo com a Notícia