A delação da JBS entrega duas
acusações contra o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Nas duas, o
tucano é acusado de pedir propina: 63 milhões de reais em 2014 e mais 2 milhões
de reais nos primeiros meses de 2017.
A contrapartida seria a atuação em favor do grupo
empresarial J&F e uma prometida, mas não entregue, liberação de 24,1
milhões de reais em crédito de ICMS. Aécio ainda teria se comprometido a
trabalhar para aprovar no Congresso a lei de abuso de autoridade e o projeto de
anistia ao caixa dois de campanha eleitoral.
Candidato à Presidência da República em 2014, o
tucano foi afastado do cargo de senador, licenciou-se da presidência do
PSDB nacional e só não foi preso porque o Supremo rejeitou um pedido da
Procuradoria-Geral da República. A irmã dele, a jornalista Andrea Neves, não
teve a mesma sorte. O senador é suspeito de ter cometido os seguintes crimes:
corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro, constituição e participação em
organização criminosa e obstrução de investigação.
Os detalhes da propina a Aécio foram revelados em depoimentos
de integrantes da cúpula do frigorífico, especialmente o sócio Joesley Batista,
interlocutor direto do senador, e o ex-diretor Ricardo Saud, a quem cabia
executar os pagamentos em dinheiro vivo. Em 2014, parte da propina serviu para
compra de apoio partidário à campanha presidencial do tucano. Segundo Saud, o
dinheiro abasteceu os cofres de diretórios e caciques de vários partidos que
apoiaram, formal ou informalmente, a candidatura do tucano ao Planalto.
Aécio Neves recebeu dinheiro outras vezes da JBS, conforme a
delação. Joesley Batista também disse que comprou um imóvel – um “predinho”
superfaturado – de um jornal em Belo Horizonte, por 17 milhões de reais, para
que o dinheiro chegasse nas mãos do tucano, em 2015. No ano passado, Aécio
pediu mais 5 milhões de reais a Joesley, durante um encontro pessoal na casa do
tucano.
O delator afirma que, diante dos sucessivos pedidos, teve
que implorar para que as exigências de dinheiro cessassem. “Eu chamei um
amigo dele, o Flávio Carneiro, e pedi para o Flávio pedir ao Aécio para parar
de me pedir dinheiro, pelo amor de Deus, porque eu já estava sendo
investigado”, declarou Joesley. O senador deu um tempo nas investidas.
Assista o vídeo:
Assista o vídeo:
Aécio não tinha meias palavras
nas conversas que mantinha com Joesley Batista. Num encontro no hotel Unique em
São Paulo, em março passado, o senador combinou o pagamento da propina de 2
milhões de reais solicitada inicialmente por meio da irmã presa e que viria a
ser efetuada com ajuda de um primo, Frederico Pacheco de Medeiros, carregador
das malas de dinheiro. Foram quatro parcelas de 500 000 reais – num dos
pagamentos, a Polícia Federal, já ciente do suborno e com aval da Justiça,
acompanhou todos os passos e registrou em fotos e vídeos o flagrante, a chamada
ação controlada.
Toda a conversa foi gravada pelo delator. Nela, Aécio não
mede palavras, nem censura temas. Cita o presidente Michel Temer e o hoje
ministro do Supremo Alexandre de Moraes numa tentativa de interferir na escolha
de delegados da Lava Jato e xinga o delegado Maurício Moscardi Grillo,
coordenador da Lava Jato e da Carne Fraca, ao desferir críticas à última
operação. “Pega um cara, um filho da p. e (sic) tô vendo aqui ele começou a
falar agora no Jornal Nacional [da TV Globo] ontem, cara de idiota do c. o tal
do delegado”, disse Aécio.
Aécio também relata o esforço para aprovar no Congresso
projetos como anistia ao caixa dois e abuso de autoridade. “Nós estamos com
essa agenda, eu estou mergulhado nisso aqui. Até a tampa”. O tucano conversa
com Joesley ainda sobre a necessidade de “tirar tudo [dinheiro] do Caribe”, em
referência às empresas offshore que operam na região. (Via: Veja)
Blog: O Povo com a Notícia