Michel Temer aprende da pior
maneira que um homem público jamais deve dizer uma mentira que não possa
provar. Menos de 24 horas depois de desmentir, o presidente foi forçado pelas
evidências a admitir que voou num jato de Joesley Batista, da
JBS, em janeiro de 2011. Ele não foi o primeiro grão-duque a requisitar asas
amigas. Mas inovou nas explicações.
A nota divulgada pelo Palácio do Planalto vale o desperdício dos 30
segundos necessários para sua leitura: “O então vice-presidente Michel Temer
utilizou aeronave particular no dia 12 de janeiro de 2011 para levar sua
família de São Paulo a Comandatuba, deslocando-se em seguida a Brasília, onde
manteve agenda normal no gabinete. A família retornou a São Paulo no dia 14,
usando o mesmo meio de transporte. O vice-presidente não sabia a quem pertencia
a aeronave e não fez pagamento pelo serviço.”
O melhor pedaço do texto é a última frase. Nela, o Brasil foi informado de
que é presidido pela única pessoa no planeta que desconhece a identidade de um
amigo capaz de lhe ceder um jato gratuitamente. A coisa fica mais complicada
quando se verifica que o autor da generosidade é o mesmo sujeito que Temer
recebeu no escurinho do Jaburu e com quem manteve o diálogo vadio que lhe
rendeu um inquérito criminal.
O sobrenome Batista não traz boa sorte aos nobres do PMDB. No mesmo ano de
2011, Eike Batista admitiu o empréstimo do seu jatinho Legacy para que o então
governador Sérgio Cabral se deslocasse até um resort na Bahia, onde se
realizava a festa de aniversário de outro amigo: Fernando Cavendish, dono da
Delta. Temer já deve ter notado que Cabral, seu companheiro de partido, não é
um bom exemplo. Mas tornou-se um fantástico aviso. Coleciona dez ações penais e
leva a vida atrás das grades. Seus amigos arrastam tornozeleiras eletrônicas em
casa.
Temer precisa tomar cuidado. A tal orquestração de que ele tanto se queixa
realmente existe. Mas está no governo, não na Procuradoria-Geral de Rodrigo
Janot ou no Supremo Tribunal Federal de Edson Fachin. Participam da
orquestração ministros que levam investigações na flauta, aliados montados na
gaita, ex-assessor pegando uma nota preta, Jucá batendo o bumbo anti-Lava Jato,
Renan desafinando com a boca no trombone, a JBS na regência e o presidente
dançando conforme a música, sem se dar conta de que virou uma caricatura de
pouco discernimento – um ser incapaz de perceber o óbvio: alguém que leva a
vaca para o brejo nas asas do Aerosley dispensa conspirações inimigas. (Via: Blog do Josias de Souza)
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