Raquel Dodge, a nova
procuradora-geral da República, pediu ao Supremo Tribunal Federal que autorize
a Polícia Federal a colher o depoimento de Michel Temer. Ela deseja ouvir o
presidente no inquérito que apura suspeitas de cobrança de propina em troca da
edição de um decreto que teria beneficiado a empresa Rodrimar, que opera no
Porto de Santos. O pedido da sucessora de Rodrigo Janot foi encaminhado ao
ministro Luís Roberto Barroso, relator do processo no Supremo.
Dodge dá sequência a uma investigação solicitada por Janot. A instauração
do inquérito foi determinada pelo ministro Barroso em 12 de setembro. O
ministro considerou que os elementos de prova já produzidos eram suficientes
para justificar o aprofundamento das investigações. Entre os indícios, há no
processo a gravação de um diálogo entre Temer e o ex-assessor Rodrigo Rocha
Loures, o homem da mala. A conversa vai reproduzida abaixo:
Loures: Está bom, presidente?
Temer: Tudo bem e você, bem?
Loures: Tudo. Tudo bem. Não, só para lhe fazer uma
consulta. Agora, coisa de umas horas atrás, chegou uma informação, através do
senador Wellington, que já teria sido assinado o decreto dos Portos, não sei se
é verdade ou não.
Temer: Não.
Loures: Pediu para eu verificar é.
Temer: Não, não foi.
No documento enviado a Barroso, Raquel Dodge escreveu que a Procuradoria
“entendeu pela instauração de investigação para melhor elucidar os fatos, de
maneira não apenas a confirmar a identidade das pessoas mencionadas, como
também esclarecer se e em quais circunstâncias atuaram para repassar dinheiro
ilícito aos agentes públicos Michel Miguel Elias Temer Lulia e Rodrigo Santos
da Rocha Loures.''
Afora o depoimento de Temer, a procuradora-geral pede diligências à
Polícia Federal. Algumas têm o presidente como alvo. Deseja-se, por exemplo,
levantar as doações eleitorais feitas pelo grupo Rodrimar a Temer, a políticos
do seu grupo político ou ao PMDB. O objetivo é identificar o eventual uso da
Justiça Eleitoral como biombo para acobertar o recebimento de propinas.
Pretende-se descobrir também se suspeitos envolvidos no caso estiveram no
Palácio do Planalto em data próxima à edição do decreto suspeito. O ofício de
dodge chegou ao Suprmo na última sexta-feira. A julgar pelo histórico das
decisões de Barroso, o ministro deve autorizar o depoimento de Temer e as
diligências complementares.
Não é a primeira vez que a Procuradoria pede o depoimento de Temer num
caso de corrupção. Janot já havia requisitado a mesma providência no processo
em que o presidente foi acusado de receber propina da JBS. Em conversa gravada
pelo empresário Joesley Batista, Temer indicou o ex-assessor Rocha Loures como
seu intermediário. Dias depois, em ação monitorada, a Polícia Federal filmou
Loures recebendo uma mala com propina de R$ 500 mil da JBS. Janot sustentou que
o dinheiro iria para Temer. O presidente nega.
Pela lei, o presidente da República tem a prerrogativa de optar por um
interrogatório escrito. No caso JBS, a Polícia Federal chegou a enviar um lote
de mais de oito dezenas de perguntas ao presidente. Mas Temer se recusou a
responder. (Via: Blog do Josias de Souza)
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