Nova métrica que passou a ser
usada neste mês pelo Banco Mundial para delimitar a quantidade de pessoas que
vivem abaixo da linha da pobreza eleva de 8,9 milhões para 45,5 milhões o
número de brasileiros considerados pobres –1/5 da população.
A instituição decidiu complementar a linha de pobreza tradicional – que
traça o corte em consumo diário inferior a US$ 1,90 – com outras duas
delimitações mais ajustadas às realidades de cada país.
Uma nova linha passa a ser demarcada em US$ 3,20, representando a mediana
das linhas para países de renda média baixa. A outra linha é de US$ 5,50 por
dia, que corresponde à mediana das linhas de pobreza dos países de renda média
alta, entre os quais se inclui o Brasil.
"Ser pobre no Maláui ou em Madagáscar é diferente de ser pobre no
Chile, no Brasil ou na Polônia", diz Francisco Ferreira, economista do
Banco Mundial.
No caso de países como o Brasil, o volume de pessoas que vivem abaixo da
linha de US$ 1,90 é pequeno, ou seja, esse corte não captura a real pobreza do
país.
"Muito pouca gente vive com US$ 1,90 por dia no Brasil, graças a
Deus. Mas quem vive com US$ 2,00 ainda é pobre para os padrões brasileiros e
para os padrões dos países de renda média alta", diz.
A parcela de pobres no Brasil, que vinha diminuindo ao longo da última
década, voltou a subir em 2015, apontam os dados do Banco Mundial.
Sob a linha de US$ 1,90 por dia a fatia da pobreza correspondia a 3,7% em
2014 e subiu para 4,3% no ano seguinte. Quando a régua sobe para US$ 5,50
diários, a parcela de brasileiros abaixo da linha vai a 20,4% em 2014,
crescendo para 22,1% em 2015.
A República Democrática do Congo serve como exemplo de país em que a linha
de US$ 1,90 é coerente porque abaixo dela sobrevivem 77% da população. Elevar
nesse país a linha para US$ 5,50 seria desnecessário do ponto de vista
estatístico porque abrangeria quase a totalidade da população.
Segundo Ferreira, a ideia é ter, portanto, linhas para comparações
internacionais mais apropriadas aos contextos dos países de diferentes níveis
de desenvolvimento.
A escala de US$ 1,90 continua sendo a medida principal, usada pelo banco
como marco para a meta de erradicação da pobreza extrema no mundo em 2030.
Os novos parâmetros adicionais foram bem avaliados por economistas.
"Parece positivo considerar linhas de pobreza mais realistas. A de
US$ 1,90 subestima a pobreza de países não pobres", diz Celia
Kerstenetzky, professora da UFRJ.
Segundo ela, é "louvável" considerar as múltiplas dimensões de
bem-estar para medir a pobreza, e não apenas a renda, um conceito alinhado às
ideias defendidas por Amartya Sen, indiano laureado com o Nobel de Economia,
cujo trabalho é mencionado pelo Banco Mundial na justificativa para a adoção
das novas linhas complementares. (Via: Folhapress)
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