As
investigações da operação Boa Fé foram iniciadas pela Delegacia de Repressão às
Ações Criminosas Organizadas (Draco) há cerca de um mês. De acordo com o
delegado Harley Filho, titular da unidade especializada, os levantamentos foram
originados sobre um núcleo criminoso atuante na fraude de concursos municipais
e estaduais realizados no Ceará. “Inclusive eles já se articulavam para atuar
no concurso do Detran”, detalha Harley. Mas os levantamentos policiais se
expandiram e os agentes de segurança ainda descobriram a investida de um
segundo grupo, com pessoas de outros estados concorrendo às vagas dos certames
feitos em território cearense.
Por
meio da Operação Boa Fé, deflagrada durante a realização do concurso para
agente penitenciário do Ceará, os agentes de segurança frustraram o plano de
trapaça de 19 candidatos e prenderam três homens apontados como gerenciadores
de um dos grupos, tendo como chefe deles o policial militar cearense Glaudemir
Ribeiro do Nascimento, de 35 anos, lotado no 1ª Companhia do 5º Batalhão da PM (1ª Cia
do 5º BPM), no Centro, que atualmente estava de licença. Ele era o responsável
por cooptar candidatos interessados na farsa. Mas o homem não atuava sozinho.
Outro militar do Ceará, Albanir Almeida Vasconcelos, de 32 anos, da 3ª Cia do 5º BPM,
no Pirambu, era comparsa de Glaudemir e também arregimentava pessoas para o
esquema. Eles chamavam conhecidos que fariam o concurso para participar da
trama. A terceira pessoa que auxiliava no gerenciamento do negócio criminoso é
o guarda municipal de Fortaleza Aurélio Moraes da Silva, de 35 anos, que também
selecionava os integrantes da farsa e atuava no repasse das respostas.
Como funcionava: O esquema consistia no repasse de respostas via pontos eletrônicos, a
partir de Glaudemir. Ele fez a prova do concurso deste domingo e sua função era
repassar as respostas via mensagens para Aurélio e outros envolvidos. Essas
pessoas (de confiança dos candidatos), então, ligavam para o ponto eletrônico
dos concorrentes do concurso e falavam as respostas das questões. Tudo isso era
feito na última hora do prazo da prova. De acordo com Harley Filho, Glaudemir
se dedicava aos estudos para acertar as questões e informar quais eram as
opções corretas. Ele foi o responsável pela aquisição dos equipamentos sonoros
e também seria a pessoa que mais lucraria com o crime. “Quando a pessoa
assumisse a vaga, teria que pagar a quantia equivalente a dez vezes o seu
salário”, explica o delegado. Além disso, uma determinada quantia era
antecipada a ele antes do certame.
Diversos pontos eletrônicos foram
encontrados nos candidatos presos. Com o tamanho comparado à cabeça de um
palito de fósforo, o objeto teve que ser retirado do ouvido dos presos em uma
unidade de saúde. Para combinar a investida criminosa, os suspeitos marcavam
“rachas” (gíria para uma partida de futebol), em um campo de futebol. O nome
era utilizado como código, para que eles se reunissem no local e realizassem
testes com os aparelhos e tratassem de instruções referentes ao dia da prova.
“Com essas prisões, nós conseguimos evitar que pessoas mal intencionadas
assumissem um cargo tão importante”, declara Harley Filho. Os candidatos presos
por participarem do plano arquitetado por Glaudemir são: Genilson Ribeiro
Guedes, de 35 anos, José Francisco Veras Barroso, de 37 anos, e Francisco das Chagas Aguiar
Junior, de 28 anos. Todos foram capturados em locais de prova. Durante vistorias nas
instituições, os policiais também encontraram aparelhos celulares em locais
como caixa de aparelho sanitário e embaixo de um cesto de lixo, em cabines de
banheiro. Na casa de Aurélio, no Jacareganga, a Polícia apreendeu uma pistola e
munições. Albanir foi interceptado em uma residência no bairro Goiabeiras e,
Glaudemir, na saída do seu local de prova. Em sua casa os agentes também encontraram
anotações sobre o esquema e diversos materiais de estudo, os quais ele
utilizava para se dedicar na aprendizagem a fim de conseguir vantagem indevida.
“Glaudemir era a pessoa que recolhia o dinheiro dos candidatos. Ele era o
piloto e foi efetivamente fazer a prova e repassou o gabarito depois para os
passadores”, disse o secretário André Costa. O titular da SSPDS destacou que os
agentes públicos, sendo os dois PMs e um guarda municipal permanecem presos,
enquanto alguns dos detidos foram soltos após o pagamento de fiança. “Aqueles
que conseguiram pagar a fiança foram soltos e responderão ao processo em
liberdade, mas alguns, especialmente os agentes públicos, permanecem presos”,
disse.
André Costa falou ainda da importância do trabalho integrado entre os
órgãos, que resultou nas prisões deste domingo. “Destaco o trabalho entre as
inteligências do Estado. Nós tivemos a participação da Coin, da Secretaria da
Segurança Pública. Tivemos também apoiando a Draco, a inteligência da Sejus, a
inteligência da Controladoria de Disciplina e também o Gaeco do MPCE. A atuação
desses quatro órgãos permitiu o sucesso dessa operação, com a identificação e a
prisão dessas 22 pessoas”, finalizou.
Durante os levantamentos policiais, outros 16 concorrentes do concurso
foram presos pela fraude. Alguns deles são cearenses e o restante oriundo de
outros estados. Todos chefiados por outros criminosos responsáveis por um
segundo esquema de fraude.
Os presos são: José Mario Pereira dos Santos Filho, de 32 anos, de Natal (RN), guarda municipal da cidade de Horizonte, na Região
Metropolitana de Fortaleza; Victor Moreira Lima Cabó, de 29 anos, de Fortaleza; Luis
Junior da Silva Neto, de 23 anos, de Cabrobó/PE; Arnaldo Ricardo Ferreira Mariano, de 30 anos, e Diarone James Coelho Dantas Leopoldo, de 35 anos, ambos de Petrolina/PE; Leonardo Henrique Lopes Silva de 26 anos, de Paulo Afonso/Bahia;
Alberto Pereira de Melo, de 42 anos, de Custódia/PE; José Victor Teixeira de Siqueira, de 22 anos, de Custódia/PE; Célio Alves Magno de Alencar, de Belém de São
Francisco/PE; Monaliza Bezerra Veras, de 34 anos, de Catolé do Rocha/Paraíba; George
Menezes dos Santos, de 29 anos, de José do Belmonte/PE; Bruno de Paula Borges, de 22 anos,
de Fortaleza; Rodrigo Costa Manhã de Oliveira, de 26 anos, de Osasco/São Paulo; Izael
Pereira de Oliveira, de 40 anos, de Crateús, onde era guarda municipal; Raphael Alencar da
Costa, de 25 anos, Recife/PE; e José Alde.
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