A Defensoria Pública do Paraná
enviou à corregedoria do Departamento Penitenciário (Depen) do estado a
denúncia de que um preso sofreu maus tratos e agressões de agentes
penitenciários no Complexo Médico Penal (CMP), em Pinhais.
O detento também relata a existência de um local chamado
"surda". Localizada entre a primeira e a segunda galeria, seria uma
sala onde, segundo o relato, presos seriam torturados por carcereiros.
Segundo funcionários do CMP ouvidos pela Folha, o local é usado para
aplicação de medidas disciplinares. Os presos ficam isolados na
"surda" por 30, 20 ou 10 dias, dependendo do delito cometido. Nesse
período, também ficam suspensos banhos de sol e visitas de familiares. Os
carcereiros negam haver tortura.
No CMP estão presos da Lava Jato como o ex-presidente da Câmara Eduardo
Cunha, o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, Ademir Bendine, e o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Netto. Não há notícia de que algum deles tenha
sido torturado no local.
O relato das agressões foi feito por um detento ao defensor público
Alexandre Gonçalves Kassama. O preso cumpria pena na PEP1 (Penitenciária
Estadual de Piraquara), mas com frequência era levado para o CMP em razão de
crises de asma.
O defensor anexou à denúncia o prontuário médico do detento, que diz que
ele "jamais apresentou histórico de problemas psiquiátricos". Depois
de três dias no CMP para tratar a asma ele passou a ter "alucinações e
problemas nunca antes apresentados, tais quais fala desconexa e perda de
equilíbrio".
O motivo das agressões seria um desentendimento entre o preso e um dos
carcereiros. O detento diz ter estranhado estar sendo alojado na primeira
galeria do CMP e não na terceira, onde havia ficado em outras oportunidades.
Ele temia confronto com presos de facções criminosas.
Ao hesitar em entrar na cela, ele teria tomado um soco no rosto e colocado
à força para dentro.
O detento também disse que, no dia seguinte, ao reclamar da demora no
atendimento na enfermagem, um funcionário chamado "seu Gláucio" o
teria segurado pelo pescoço, batido com sua cabeça na parede e lhe dado dois
socos. O preso diz ter reagido empurrando o agressor. Três outros carcereiros o
algemaram e espancaram, segundo o relato, com chutes enquanto ele estava no
chão.
Levado de volta à galeria, ele teria sido algemado e, sem prescrição
médica, tomado várias injeções. A partir daí passou a ter alucinações. O
detento também diz ter tomado um soco do funcionário conhecido como "seu
Bonfim".
Por fim, ele teria sido encaminhado à "surda" e lá teria
esperado até "sair o roxo".
O defensor Kassama disse à corregedoria do Depen que a prática de torturas
no CMP já vinha sendo denunciada por outros detentos e não tinha sido ainda
alvo dos defensores por não haver provas.
O Depen afirma que "o caso corre sob sigilo e encontra-se em fase
inicial de instrução".
No domingo (13) seis presos fugiram do Complexo Médico Penal. Eles
perfuraram o teto da terceira galeria e escaparam pelo telhado do presídio. A
ocorrência motivou a troca na chefia de segurança do CMP. (Via: Folhapress)
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