Foram quatro dias: entre 15 e 18
de novembro de 2017, o reservatório de Sobradinho, maior do rio São Francisco,
atingiu o seu nível mais baixo da história, chegando a apenas 1,8% de seu
volume útil. Pouco menos de 20 meses depois dessa baixa recorde, o lago começa
a voltar a respirar. O volume útil da represa chegou a 42,7% na última quinta-feira
(8), voltando ao nível de 2013, ano em que a seca começou a fustigar o
semiárido do Nordeste.
Além de dar estabilidade à
produção de energia pelas usinas hidroelétricas instaladas ao longo do São
Francisco, a recuperação da barragem também abre perspectivas para a retomada
econômica da região, que tem na fruticultura irrigada e piscicultura como carros-chefes.
Nos últimos anos, o cenário foi de estagnação. Desde junho de 2017, a ANA
(Agência Nacional de Águas) reduziu a vazão da paragem de Sobradinho para 550
m³/s e proibiu a captação de água do rio todas as quartas-feiras, deixando as
plantações um dia da semana sem irrigação.
Os seis anos consecutivos de
seca, entre 2012 e 2018, resultaram num aumento de custos para os produtores
com energia, já que a água para a irrigação passou a ser bombeada de regiões
mais distantes. Além disso, parte dos agricultores deixou de lado os cultivos
de ciclo curto, no qual eram produzidos melancia, melão, feijão e cebola, e
concentrou-se na produção principal de manga e uva.
O cenário mudou com as chuvas
que atingiram a região nas duas últimas quadras chuvosas. A restrição para a
irrigação nas quartas —que resultava em queda de até 15% na produtividade — caiu
no fim do ano passado, e a vazão de Sobradinho já chega a 800 m³/s.
Ao todo, a região tem 120 mil
hectares de fruticultura irrigada, que resultaram numa colheita de 750 mil
toneladas de frutas em 2018.Um dos principais polos de produção, a cidade de
Casa Nova retomou a curva de crescimento na produção. Segundo dados do Censo
Frutícola, a colheita de manga em 2018 chegou a 100 mil toneladas —aumento de
84,8% em comparação a 2016. Também foram colhidas na cidade 28 mil toneladas de
goiaba e 27 mil toneladas de uva.
O avanço da produção fez as
vinícolas da região retomarem seus planos de investimento. Em dezembro, o Grupo
Miolo anunciou a ampliação de sua fábrica de vinhos em Casa Nova e a instalação
de uma nova fábrica de suco de uva na cidade de Barra.
Além da oferta de água, o
cenário tornou-se mais promissor com o acordo entre Mercosul e União Europeia,
que vai derrubar taxas para exportação de frutas e derivados. Os empresários
defendem que a janela de oportunidade seja aproveitada com uma política de
crédito para irrigação no longo prazo e incremento da pesquisa, além de uma
primazia para a produção agrícola diante da produção energética.
“A fruticultura no Vale do São
Francisco tem um potencial de crescimento muito maior do que se estima. Basta
que ele seja encarado como uma política de Estado”, diz José Gualberto de
Freitas, presidente da Valexport, entidade que congrega produtores e
exportadores de fruta da região. O setor pesqueiro também ganhou novo impulso.
Criando tilápias em tanques há sete anos no reservatório de Sobradinho,
Estefani dos Santos, 28, voltou a produzir 20 toneladas de peixes por ano e já
mira chegar a 30 toneladas em nos próximos anos.
“O problema é que quando a
barragem seca, temos que movimentar os tanques para áreas menos rasas, e isso
gera mortalidade. Já cheguei a perder três toneladas de peixes nesse processo”,
diz o pescador. Rafael Ferreira, que também possui tanques em Sobradinho, chegou
a pensar em desistir no auge da seca. Mas, em dois anos, conseguiu ampliar a
produção de 8 para 18 toneladas de tilápias a cada ciclo de seis meses. Além de
Sobradinho, a retomada do volume de água também avança nos demais reservatórios
do Sistema Hídrico do Rio São Francisco. Em Três Marias (MG), o volume de água
chegou a 72,7%.
Em Itaparica, a barragem
chegou a 37,8% do volume útil. Há cinco anos, com 15%, o nível baixo da água
fez reaparecer quase toda a estrutura antiga igreja do Sagrado Coração de Jesus,
em Petrolândia (PE), inundada quando a barragem foi criada, em 1988. Apesar do
avanço, o volume ainda está longe de atingir o nível pré-seca. Em fevereiro de
2012, Sobradinho chegou a ter 88% de sua capacidade, que é de 34 milhões de
metros cúbicos de água.
Presidente do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo de Miranda diz que a retomada do
volume é resultado de ações preventivas, mas que a situação do rio ainda
inspira cuidados. Além da quantidade de água, sua qualidade também é essencial
para o futuro do São Francisco. Não podemos perder o foco”, afirma Anivaldo,
defendendo uma retomada nos investimentos contra o assoreamento e em sistemas
de esgoto nas cidades ribeirinhas. (Via: Bahia Notícia)
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