Uma série de influenciadoras brasileiras publicou vídeos nas redes sociais promovendo oportunidades de emprego na Rússia. Segundo elas, tratava-se de uma chance única de receber salários de até US$ 680 por mês, com benefícios como:
- Despesas de acomodação e passagens aéreas pagas
- Seguro médico
- Documentação garantida
- Aulas de russo, para atuar durante dois anos nas áreas de “hospitalidade, alimentação, produção e lógistica”.
No entanto, a realidade é bem diferente, e sombria. O chamado “Programa Start” é, na prática, o Alabuga Start, uma iniciativa de recrutamento vinculada à Zona Econômica Especial de Alabuga, no Tartaristão, Rússia.
Segundo investigações, o programa vendido como oportunidade para jovens de várias partes do mundo é, na verdade, um esquema de montagem de drones militares utilizados pelo exército russo na guerra contra a Ucrânia.
Como funciona
O principal interesse é contratar mulheres entre 18 e 22 anos da África, América Latina e Sudeste Asiático para solucionar a escassez de mão de obra no país.
Três relatórios de pesquisa de grupos como o Instituto de Ciência e Segurança Internacional (ISIS) alegaram que as jovens acabam trabalhando em uma fábrica de drones regularmente bombardeada pela Ucrânia. As mulheres são vistas como mais confiáveis do que os homens para esse tipo específico de trabalho, de acordo com o ISIS.
Ao chegar à Rússia, diversas participantes relataram ter sido forçadas a trabalhar em fábricas de drones militares, de acordo com relatório da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional.
As denúncias citam condições duras de trabalho, jornadas extenuantes, salários muito inferiores aos prometidos, exposição a produtos químicos perigosos e vigilância constante.
Dentro da zona econômica especial, o deslocamento também é restrito, com limitação severa da liberdade de movimento. Há relatos de que alguns passaportes de trabalhadoras foram retidos para impedir sua saída.
“Estimamos que cerca de 90% das mulheres que vão para Alabuga acabam no programa de drones” disse Spencer Faragasso, pesquisador sênior do ISIS, sediado em Washington à Bloomberg em agosto. Elas estão construindo armas e estão sendo expostas à linha de fogo porque agora fazem parte de uma guerra.
Risco de tráfico humano
As práticas do programa chamaram atenção da Interpol e de entidades de direitos humanos, que classificam o caso como possível tráfico humano, crime de repercussão internacional.
Organizações como o Business & Human Rights Resource Centre também questionam plataformas como Meta, TikTok e Telegram pelo papel na divulgação do programa. Em abril, a filial da Interpol em Botsuana abriu um inquérito sobre o caso, e países como África do Sul e Quênia também iniciaram apurações.
Reação no Brasil
O caso repercutiu bastante com as denúncias de Guga Figueiredo e Jordana Vucetic, que fizeram uma exposição dos anúncios das influenciadoras e as suspeitas sobre o programa Start.
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Na última quarta-feira (1), a influenciadora MC Thammy foi aos stories do Instagram para se retratar. Ela apagou o vídeo em que promovia o Abaluga Start no TikTok e afirmou ter rompido o contrato com a empresa.
Eu nunca concordaria nem apoiaria nada que fosse prejudicial às pessoas. Fiz a publi contratada, porque mostraram muitas coisas pra comprovar que, de fato, o programa existe, inclusive apresentando documentações. Também verificamos que essa publi estava sendo feita por influenciadores muitos grandes”, escreveu no Instagram.
“Assim que surgiram acusações e ataques e após a repercussão negativa, eu já apaguei, devolvi e ativei a equipe jurídica para cuidar do caso e estamos acompanhando tudo de perto”, complementou.
Uma outra influenciadora, Catherine Bascoy negou ter vínculos com a empresa e disse ter apenas feito a publicidade contratada. Ela alegou ter feito pesquisas sobre a companhia, verificado licenças e acompanhado outros conteúdos sobre a atividade antes de fechar a parceria.
A influenciadora reconheceu que nem sempre acerta nas escolhas e afirmou estar tomando providências para esclarecer o caso.
Ao meu ver, tudo parecia estar em conformidade. Minha intenção nunca foi, e jamais será, prejudicar quem me acompanha; muito pelo contrário, sempre busquei ser responsável e criteriosa em minhas escolhas", escreveu Catherine, em nota publicada na internet.
A influenciadora Aila Loures também afirmou que as acusações vão contra tudo o que acredita. Ela disse que nunca teve envolvimento em polêmicas ao longo dos cinco anos em que trabalha com internet e afirmou ter submetido o trabalho à sua equipe, que verificou a documentação e repassou para a "prestação de serviço".
Antes de chegar para mim, tem curadoria para averiguar a parte jurídica, contratual, documentação. Passou pelo crivo do meu escritório, foi completamente averiguado, houve comprovação da existência da empresa na Rússia. Estava 100% legal. Eu jamais faria isso intencionalmente, por valor nem dinheiro nenhum. Jamais compactuaria com esse tipo de coisa, me atrelaria a algo tão absurdo, tão negativo, tão sério. Estou esperando o posicionamento da agência que contratou meu escritório, mas já peço perdão por tudo. Espero que isso nunca mais aconteça”, contou ela em vídeo no Instagram.