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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Influenciadoras brasileiras enganam mulheres com empregos dos sonhos na Rússia e as colocam na guerra

Uma série de influenciadoras brasileiras publicou vídeos nas redes sociais promovendo oportunidades de emprego na Rússia. Segundo elas, tratava-se de uma chance única de receber salários de até US$ 680 por mês, com benefícios como:

  • Despesas de acomodação e passagens aéreas pagas 
  • Seguro médico
  • Documentação garantida
  • Aulas de russo, para atuar durante dois anos nas áreas de “hospitalidade, alimentação, produção e lógistica”.

No entanto, a realidade é bem diferente, e sombria. O chamado “Programa Start” é, na prática, o Alabuga Start, uma iniciativa de recrutamento vinculada à Zona Econômica Especial de Alabuga, no Tartaristão, Rússia.

Segundo investigações, o programa vendido como oportunidade para jovens de várias partes do mundo é, na verdade, um esquema de montagem de drones militares utilizados pelo exército russo na guerra contra a Ucrânia.

Como funciona

O principal interesse é contratar mulheres entre 18 e 22 anos da África, América Latina e Sudeste Asiático para solucionar a escassez de mão de obra no país. 

Três relatórios de pesquisa de grupos como o Instituto de Ciência e Segurança Internacional (ISIS) alegaram que as jovens acabam trabalhando em uma fábrica de drones regularmente bombardeada pela Ucrânia. As mulheres são vistas como mais confiáveis ​​do que os homens para esse tipo específico de trabalho, de acordo com o ISIS.

Ao chegar à Rússia, diversas participantes relataram ter sido forçadas a trabalhar em fábricas de drones militares, de acordo com relatório da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional. 

As denúncias citam condições duras de trabalho, jornadas extenuantes, salários muito inferiores aos prometidos, exposição a produtos químicos perigosos e vigilância constante. 

Dentro da zona econômica especial, o deslocamento também é restrito, com limitação severa da liberdade de movimento. Há relatos de que alguns passaportes de trabalhadoras foram retidos para impedir sua saída. 

“Estimamos que cerca de 90% das mulheres que vão para Alabuga acabam no programa de drones” disse Spencer Faragasso, pesquisador sênior do ISIS, sediado em Washington à Bloomberg em agosto. Elas estão construindo armas e estão sendo expostas à linha de fogo porque agora fazem parte de uma guerra.

Risco de tráfico humano

As práticas do programa chamaram atenção da Interpol e de entidades de direitos humanos, que classificam o caso como possível tráfico humano, crime de repercussão internacional.

Organizações como o Business & Human Rights Resource Centre também questionam plataformas como Meta, TikTok e Telegram pelo papel na divulgação do programa. Em abril, a filial da Interpol em Botsuana abriu um inquérito sobre o caso, e países como África do Sul e Quênia também iniciaram apurações.

Reação no Brasil

O caso repercutiu bastante com as denúncias de Guga Figueiredo e Jordana Vucetic, que fizeram uma exposição dos anúncios das influenciadoras e as suspeitas sobre o programa Start.

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Na última quarta-feira (1), a influenciadora MC Thammy foi aos stories do Instagram para se retratar. Ela apagou o vídeo em que promovia o Abaluga Start no TikTok e afirmou ter rompido o contrato com a empresa. 

Eu nunca concordaria nem apoiaria nada que fosse prejudicial às pessoas. Fiz a publi contratada, porque mostraram muitas coisas pra comprovar que, de fato, o programa existe, inclusive apresentando documentações. Também verificamos que essa publi estava sendo feita por influenciadores muitos grandes”, escreveu no Instagram.

“Assim que surgiram acusações e ataques e após a repercussão negativa, eu já apaguei, devolvi e ativei a equipe jurídica para cuidar do caso e estamos acompanhando tudo de perto”, complementou.

Uma outra influenciadora, Catherine Bascoy negou ter vínculos com a empresa e disse ter apenas feito a publicidade contratada. Ela alegou ter feito pesquisas sobre a companhia, verificado licenças e acompanhado outros conteúdos sobre a atividade antes de fechar a parceria. 

A influenciadora reconheceu que nem sempre acerta nas escolhas e afirmou estar tomando providências para esclarecer o caso.

Ao meu ver, tudo parecia estar em conformidade. Minha intenção nunca foi, e jamais será, prejudicar quem me acompanha; muito pelo contrário, sempre busquei ser responsável e criteriosa em minhas escolhas", escreveu Catherine, em nota publicada na internet.

A influenciadora Aila Loures também afirmou que as acusações vão contra tudo o que acredita. Ela disse que nunca teve envolvimento em polêmicas ao longo dos cinco anos em que trabalha com internet e afirmou ter submetido o trabalho à sua equipe, que verificou a documentação e repassou para a "prestação de serviço".

Antes de chegar para mim, tem curadoria para averiguar a parte jurídica, contratual, documentação. Passou pelo crivo do meu escritório, foi completamente averiguado, houve comprovação da existência da empresa na Rússia. Estava 100% legal. Eu jamais faria isso intencionalmente, por valor nem dinheiro nenhum. Jamais compactuaria com esse tipo de coisa, me atrelaria a algo tão absurdo, tão negativo, tão sério. Estou esperando o posicionamento da agência que contratou meu escritório, mas já peço perdão por tudo. Espero que isso nunca mais aconteça”, contou ela em vídeo no Instagram.