No terceiro dia de investigações, a advogada Mysheva Martins foi convocada pela polícia para o reconhecimento pessoal do suspeito de ter atirado contra o ex-noivo dela, o promotor Thiago Faria. Ela chegou na Delegacia de Águas Belas, no final da manhã de ontem, chorando e acompanhada de duas familiares. Ela prestou depoimento sobre a morte do noivo e confirmou que Edmacy Ubirajara disparou os tiros que o mataram. Foram cerca de três horas na delegacia. Mysheva também está sendo investigada, segundo fontes da Polícia Civil.
A equipe do Diario esteve na residência onde ela mora, no centro do município, mas uma tia contou que ela está em "estado de choque". "É um momento dolorido. Por isso, não é o momento de falar sobre o assunto. Peço que falem com a polícia", disse.
Na entrada da delegacia, familiares de Edmacy não escondiam a revolta pela prisão dele. O irmão, Carlos Ubirajara, 60, afirmou que a polícia estava cometendo uma injustiça e que eles iriam provar isso. "É uma vergonha. Ele veio se apresentar como testemunha e acabou sendo preso. Escolheram ele como ícone para tentar justificar a competência da Polícia Civil, que na verdade é ineficiente", afirmou.
Carlos contou que há provas que precisam ser analisadas e que podem inocentar o irmão, entre elas um comprovante de pagamento de uma recarga de celular, às 9h11 da segunda-feira, horário aproximado em que o assassinato aconteceu. "Ele foi à oficina cedo pegar o carro. Fomos na casa da minha irmã e depois na farmácia. De lá fomos para Santa Rosa (povoado onde mora)", relatou a mulher do suspeito, Solange Pereira, 47.
Ao final dos depoimentos, na noite de ontem, Edmacy foi encaminhado para o Recife, onde passou por exames residuográficos no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e seria encaminhado ao Centro de Triagem (Cotel) em Abreu e Lima. "Sou inocente. Vou provar isso", disse antes de entrar na viatura policial para deixar a cidade de Águas Belas.
Entrevista : Leandro Ubirajara
“Meu pai teme pela vida dele”
O advogado Leandro Ubirajara, 28, filho de José Maria Pedro Rosendo, esteve na manha de ontem na Delegacia de Águas Belas para ajudar na defesa do tio, o agricultor Edmacy Ubirajara, que cumpre mandado de prisão temporária por suspeita de participaçao na morte do promotor. Em entrevista à imprensa, Leandro afirmou que teme pela vida da família.
Existia uma briga de terras?
Esta questão está na Justiça, que determinou que a gente entregasse os bens (fazenda). Saímos de lá, mas entramos com uma ação para anulação, que está em trâmite.
Como você vê essa situação em que o seu pai é apontado como mandante de um assassinato?
Receio pela preservação da vida dele. Estamos com medo. Não estamos dormindo em casa. Estamos receosos. Temos medo do modus operandi da polícia.
Onde está o seu pai?
Não sei dizer. Não tenho a mínima ideia. Ele está sumido porque... veja ao seu redor o circo que foi armado. Ele teme pela vida, pela imagem dele.
Mas havia uma briga ou rivalidade entre famílias?
A gente não era amigos. Não tomávamos cerveja juntos. Não se falava. Era cada um no seu canto. Rixa nunca teve.
Por que estão culpando o seu pai?
Há 29 anos houve um atentando contra o meu pai. A suspeita é de que tenha sido praticado por Seu Lourinho (sogro do promotor). Meu pai tem cicatriz no braço, perfuração no corpo. Foram quatro a cinco tiros de 12. Não sei explicar direito o motivo do atentado naquela época.
Quando foi a última vez que você viu o seu pai?
Na segunda pela manhã. Eu estava chegando no escritório, no posto de gasolina. Ele sempre estava por lá. Quando cheguei, ele assustado, perguntou se eu já sabia do que aconteceu. É muito difícil não ventilar o nome dele por conta do atentado. Mas a gente não tem dinheiro. Para mandar fazer um crime desse tem que ter dinheiro.
Ele sabia se já estavam suspeitando dele?
Ele não falou. Ele é muito calado, uma pessoa pacata. Não existe a menor possibilidade dele ser o mandante.
Se ele é inocente, por que não se apresentou à polícia?
Antes eu achava que a melhor postura era se apresentar. A polícia ouvia o que ele tava falando, confirmava as provas e “cabou-se”. Mas depois do que aconteceu com o meu tio, vi que eles só querem prender alguém.
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Fonte: Diario dePernambuco