Curitiba - O prédio com fachada envidraçada da Polícia Federal no Paraná fica em um sossegado bairro residencial de Curitiba. Por questões de segurança, não há estabelecimentos comerciais no entorno. O silêncio é tal que alguns funcionários da PF lutam contra o sono depois do almoço.
A Operação Lava Jato transformou o lugar. Lá também fica a carceragem onde estão presos 11 executivos de empreiteiras, ex-diretor da estatal, doleiros e lobista acusados de participar do esquema de corrupção da Petrobrás. Dia sim, dia não, as equipes de reportagem ocupam a porta. O entra e sai de advogados virou rotina. Vizinhos com mais tempo para acompanhar o movimento no local já sabem até identificar que este ou aquele grupo de engravatados atende este ou aquele preso.
A polícia não divulga detalhes sobre o trânsito dos presos ou de seus familiares. Assim, o que não faltam são histórias e boatos sobre gente que vai chegar, sair ou passar por lá. A imprensa já fez campana à espera da ex-amante do doleiro Alberto Youssef - aquela que está na revista Playboy deste mês. Também aguardou por horas a visita da filha do ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró - aquela filha para quem ele transferiu parte dos bens. Se qualquer uma delas de fato apareceu, ninguém viu.
O ambulante que vende água e salgados no entorno garante que a esposa de Youssef é uma “querida”. Ele conta, para quem quiser ouvir, que a senhora chegou com dois carros, quatro seguranças e marmitas com salmão, frango defumado e bombons franceses. A própria teria lhe informado o cardápio quando comprou uma garrafinha de água mineral. Segundo os jornalistas que marcam ponto no local, se a mulher de Youssef passou por lá, ninguém identificou.
Cantoria. Quando alguém é preso ou libertado, o local fica especialmente tomado por fotógrafos e cinegrafistas em busca de uma imagem exclusiva. Eles não arredam o pé até quando um preso simplesmente vai depor dentro do prédio e, no máximo, é transferido de uma sala a outra em alguma área inacessível. A vigília é para o caso de algum advogado passar pela entrada e dar uma declaração bombástica. No dia 15 de janeiro, quando Cerveró prestou depoimento, o show na porta ficou por conta do cantor Marcos Moura. De posse de sua viola, ele apresentou o pagode da Lava Jato, de sua autoria: “A Operação Lava Jato fechou a gincana. Ninguém mais engana”, entoava.
As quartas-feiras, dia da semana reservado a visita, são capítulos à parte. Os familiares de presos da Lava Jato se misturam aos dos demais detentos - ou quase isso. Poucos são como a mulher do empreiteiro Ricardo Pessoa, presidente da UTC, que entra na fila para pegar a senha da visita. Sim, quem chega recebe uma senha e precisa esperar a vez para entrar na área da carceragem e ver o preso, geralmente atrás de um vidro, como nos filmes americanos. Na maioria dos casos, os advogados das empreiteiras recolhem os documentos e entram na fila no lugar dos clientes que, em vez de aguardarem no saguão da entrada, preferem se sentar nas cadeiras ao fundo da sala em anexo, à direita da entrada, na área reservada aos que vão tirar o passaporte. Mesmo assim, não passam desapercebidos. O cabelo bem tratado, as roupas de marca, os óculos escuros no ambiente fechado contrastam com o jeito comum dos demais. (msn)
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