A Polícia Civil apresentou, nesta segunda-feira, 27, no auditório da Delegacia-Geral, em Belém, os homens presos, nos Estados de Pernambuco e da Bahia, acusados de integrar uma organização criminosa interestadual responsável por enganar, pelo menos, 100 vítimas em todo país, por meio de anúncios falsos de vendas de carros pela internet. A estimativa é de que o golpe tenha rendido mais de R$ 1 milhão ao grupo criminoso. Pelo menos, 100 contas bancárias diferentes foram utilizadas pela organização criminosa, em todo país, para receber dinheiro depositado pelas vítimas como valor de entrada da compra de carros que não existiam.
As informações foram divulgadas em entrevista coletiva a jornalistas concedida pela delegada-geral adjunta da Polícia Civil, Christiane Ferreira, e delegados Bruno Brasil e Augusto Damasceno, de Capanema (PA), e Fernando Rocha, do Núcleo de Inteligência Policial da PC, que apresentaram detalhes da operação “Estrela”, iniciada em novembro do ano passado, em Capanema.
As prisões foram realizadas na madrugada de sexta-feira passada por policiais civis do Pará, com apoio de policiais civis de Pernambuco e da Bahia. Responsável pelo inquérito instaurado para apurar os golpes, o delegado Bruno Brasil detalhou que o esquema criminoso chegou ao conhecimento da Polícia Civil, após a proprietária da loja Estrela Veículos, de Capanema, procurar a Delegacia, para denunciar que algumas pessoas estavam procurando o estabelecimento sob alegação de que teriam pago um sinal pela compra de carros via internet. A loja, porém, não faz anúncios de venda na internet. O anúncio mostrava veículos que poderiam ser adquiridos mediante pagamento de entrada do valor do veículo, em depósito bancário, e o restante pago via financiamento.
Nas investigações, detalha o delegado, foi constatado que o grupo montou uma página “fake” (falsa) na internet, usando o nome e até o CNPJ da loja. Entre as diversas vítimas, duas delas moradoras em Tocantins e no Maranhão, foram pessoalmente até a loja em Capanema reivindicar o carro. As vítimas foram ouvidas em depoimento e as investigações se iniciaram, até concluir na identificação da organização criminosa, que tinha bases em Petrolina, interior de Pernambuco, e em Juazeiro, na Bahia. “Verificamos que eles agiam em cidades do interior nordestino e faziam vítimas pessoas também no interior, evitando as capitais, onde o acesso seria mais fácil”, explica. Segundo o delegado Augusto Damasceno, os carros oferecidos no site iam desde carros populares até carros de luxo, como Porsche e Camaro. “Uma das vítimas chegou a depositar R$ 100 mil”, revela. Todos os veículos anunciados eram seminovos e com preços abaixo do valor de loja.
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA: Conforme o delegado, as investigações apontaram que o crime era praticado por uma organização criminosa, por causa da estrutura do grupo. “Cada um tinha uma função, um objetivo dentro do esquema”, explica. Por isso, ressalta o policial civil, as ordens judiciais foram expedidas pela Vara das Organizações Criminosas mediante parecer do promotor de Justiça Milton Menezes, do GAECO (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público do Pará. O trabalho investigativo mostrou que o líder do grupo é o pernambucano Joventino Soares Ramos, 47 anos, de apelido Jove, nascido em Cabrobó (PE). Já respondendo a processos criminais em Pernambuco e em São Paulo, por estelionato, Joventino começou a aplicar golpes no final da década de 1980, quando ele pagava anúncios falsos em jornais para aplicar golpes. Com o tempo, ele passou a arregimentar familiares, como primos e sobrinhos, nos golpes.
Com a internet, explica o delegado, os parentes mais jovens, que já tinham conhecimento em informática, passaram a montar anúncios falsos para divulgá-los em sites de compra e venda na internet. “É uma organização criminosa em família”, resumiu Bruno Brasil. Os policiais encontrara, dentro do porta-luvas do carro de Juventino, R$ 17 mil oriundos do golpe. O outro envolvido no crime é o mineiro Eduardo José Souto, 36 anos, de apelido “Mineiro” ou “Mineirinho”, nascido em Formiga (ME). Era ele quem fazia os contatos com os interessados em comprar carros e se identificava como filho do dono da loja. Outro preso, o pernambucano César Rodrigues dos Santos, 35, conhecido como “Cesinha”, de Cabrobó (PE), era quem conseguia as contas bancárias que seriam usadas para receber os depósitos.
A investigação aponta que os fornecedores das contas sabiam do golpe, o que demonstra que mais gente está envolvida no esquema. “Em um segundo momento da operação, vamos apurar o crime de lavagem de dinheiro e aí vamos investigar essas pessoas”, detalha. O dinheiro depositado nas contas, revela o delegado Fernando Rocha, era imediatamente sacado para evitar estorno dos valores pelo banco decorrente de reclamação das vítimas. O pernambucano Marcos Aurélio Santana Novaes, 31 anos, de Cabrobó (PE), também gerenciava e arrumava as contas bancárias. Já o baiano Emerson Gonçalves, de apelido “Binha”, nascido em Juazeiro (BA), é sobrinho de “Jove” e responsável em lançar os anúncios na internet.
O irmão de “Binha”, Erisson Gonçalves, 26, natural de Lagoa Grande (PE), conhece informática e atuava também nos anúncios. Já o acusado Flávio Ferreira da Silva, 33, de apelido “Dodô”, de Cabrobó (PE), era quem fazia o contato com as vítimas, passando-se por representante da loja, e também conseguia contas usadas no golpe. Na casa dele, em Petrolina (PE), os policiais apreenderam R$ 4 mil em dinheiro adquirido ilegalmente. Os outros presos são os baianos Vandevelton Santana Caldas, 27, de apelido “Vando”; Wesley Ramos Oliveira, 20, e Danilo Conceição da Silva, 22, baianos nascidos em Juazeiro (BA). Outro envolvido no esquema, identificado como Ronielson, de apelido “Mimi”, morador em Feira de Santana (BA), está foragido. Todos os presos foram ouvidos em depoimento e, depois de passar por perícia de corpo de delito, foram encaminhados ao Sistema Penitenciário.
OPERAÇÃO: De um total de 11 mandados de prisão expedidos pela Justiça do Pará, dez foram presos nas cidades de Petrolina, Cabrobó e Lagoa Grande, em Pernambuco, e em Juazeiro, Senhor do Bonfim e Jacobina, na Bahia. Foram designados, pelo delegado-geral, Rilmar Firmino, para comandar a operação, os delegados Bruno Brasil, de Capanema; Carlos Vieira, de Castanhal; Luciano Cunha, de Soure, e Humberto Melo, de Belém, juntamente com policiais civis do Grupo de Pronto-Emprego (GPE), do Laboratório de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro e do Núcleo de Inteligência Policial (NIP). A ação contou com apoio das Polícias Civis de Pernambuco e da Bahia, no cumprimento dos mandados de prisão e de busca e apreensão.
MAIS VÍTIMAS: A delegada-geral adjunta, Christiane Ferreira, ressaltou que há outro inquérito instaurado pela Polícia Civil, na Divisão de Investigações e Operações Especiais (DIOE), que apura golpe semelhante aplicado na Região Metropolitana de Belém. Ela solicita a outras vítimas que procurem a sede da DIOE, na rua Avertano Rocha, bairro da Cidade Velha, em Belém, e no interior do Estado a Delegacia mais próxima, para registrar a ocorrência. (Via: Diário Popular do PA)
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