Mulheres já não temem mais
trabalhos que há séculos são realizados por homens, e nem se intimidam com
eles. O trabalho é pesado, mas Luzia Simões, de 46 anos, não reclama. É como
pedreira na construção de fogões agroecológicos que a agricultora entrou no tradicional
reduto masculino. “A mulher tem a mesma capacidade de fazer o serviço que o
homem”, ela diz.
A vontade partiu de uma formação para a construção de fogão
agroecológico realizada pela Casa da Mulher do Nordeste, através do projeto
Mulheres na Caatinga, que contou com o apoio do Programa de Pequenos Projetos
Ecossociais (PPP-ECOS), gerenciado pelo Instituto Sociedade, População e
Natureza (ISPN). Luzia Simões é uma das agricultoras beneficiadas que
participou da formação, que além de receber a tecnologia em sua casa, também
construiu 18 fogões em vários municípios do Sertão do Pajeú.
A pedreira leva um
dia para executar o trabalho, e se diz caprichosa no serviço. “Essa última
semana estava em Canudos, a família me recebe bem mas os homens sempre ficam
curiosos com o trabalho feito por uma mulher”, disse. Para a Casa da Mulher do
Nordeste, que possibilitou a formação para todas as mulheres que receberam a
tecnologia nos últimos 2 anos, ao todo 78 agricultoras, esse é o caminho para a
geração de renda e autonomia das mulheres. O fogão agroecológico apresenta-se
como uma alternativa na melhoria da qualidade de vida, não só possui um melhor
rendimento da lenha e maior aproveitamento do calor liberado pela lenha que o
modelo de fogão a lenha convencional. Possibilita a discussão da divisão sexual
do trabalho doméstico, como também gera renda para as mulheres na construção da
tecnologia.
Casada há 26 anos, Luzia tem 7 filhos, e todos eles tem
orgulho do trabalho realizado por ela, que ainda divide o tempo com a
agricultura familiar. Nas conversas durante as construções, ela percebe que as
mulheres tem vontade de aprender e as motiva, mas se queixam com a falta de
tempo e também pelo serviço pesado. E sonha em aprender a construir outras
tecnologias. “Ainda quero aprender a construir cisternas, esse é meu próximo
passo”, reafirmou.
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