O presidente Michel Temer (PMDB) atacou
duramente neste sábado, em pronunciamento oficial na TV, as acusações feitas
pelo empresário Joesley Batista,
da JBS, desqualificou a conversa gravada pelo empresário
em reunião com ele no Palácio do Jaburu, afirmou que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal
(STF) o arquivamento do inquérito contra
ele e reafirmou que vai continuar no cargo.
Em fala de pouco mais de três minutos, ele citou evidências de que o
áudio da reunião dele com Joesley teve mais de 50 edições. “Essa gravação
clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos
e, incluído no inquérito sem a devida e adequada averiguação, levou muitas
pessoas ao engano induzido e trouxe grave crise ao Brasil”, afirmou em
pronunciamento no Palácio do Planalto.
Ele disse que, em razão das dúvidas sobre a autenticidade das gravações,
ele vai entrar com um pedido no STF para arquivamento do inquérito aberto
contra ele pelo ministro Edson Fachin após
pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
que viu evidências de três crimes por Temer: obstrução da Justiça, corrupção
passiva e organização criminosa. “Por isso, no dia de hoje, estamos entrando
com petição no colendo STF para suspender o inquérito proposto até que seja
verificada em definitivo a autenticidade da gravação clandestina”, disse.
No pronunciamento, ele também criticou fortemente Joesley. “O autor
do grampo está livre e solto passeando pelas ruas de Nova York”, disse. “Não
passou nem um dia na cadeia, não foi preso, não foi julgado e não foi punido.
E, pelo jeito, não será”, disse. Ele também atacou o empresário por ter
comprado grande quantidade de dólares às vésperas da divulgação de sua delação.
“Ele especulou contra a moeda nacional”, afirmou.
De acordo com Temer, o que Joesley fala sobre ele em sua delação
premiada não está no áudio entregue ao Ministério Público
Federal. “O que ele fala em seu depoimento não está no
áudio. E que está no áudio mostra que ele estava insatisfeito com o meu
governo. Essa é a prova cabal de que meu governo não estava aberto a ele”,
afirma o presidente sobre as reclamações do empresário em relação a demandas em
órgãos do governo.
Temer diz, ainda, que “no caso central de sua delação [o pagamento de
propina para agilizar demanda no Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica)], fica patente o fracasso de sua ação”. “O Cade não decidiu a
questão suscitada por ele. O governo não atendeu aos seus pedidos”, disse.
Para o presidente, “não se sustenta a acusação de corrupção passiva”. Na
delação, Joesley afirma que pagou propina ao deputado federal Rodrigo Loures
(PMDB-PR), indicado por Temer para ser seu interlocutor nas demandas do
empresário junto ao governo. A propina seria para destravar uma questão no Cade
envolvendo uma termelétrica do grupo JBS em Cuiabá.
Segundo Temer, não só o Cade, mas outros órgãos do governo, como o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico) e a Petrobras, fecharam as portas
para quem obtinha facilidades anteriormente. “Estamos acabando com os velhos
tempos da facilidade aos oportunistas e isso está incomodando muito”, afirmou o
presidente. “Estão querendo me tirar do governo para voltar aos velhos tempos
em que faziam tudo o que queriam.”
Visita noturna
Sobre ter recebido o empresário à noite (por volta das 22h30), em sua
residência oficial, o Palácio do Jaburu, sem que a reunião constasse de sua
agenda, ele disse que não há irregularidade alguma. “Eu o ouvi à noite, assim
como ouvi vários empresários, intelectuais e outros setores no Palácio do
Planalto, no Alvorada, no Jaburu ou em São Paulo. Trabalho rotineiramente até
depois da meia-noite”, disse.
Em relação à acusação de que teria assentido e dado aval à compra do
silêncio, por meio de propina, do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
ele disse que “não existe isso na gravação, mesmo tendo sido ela adulterada”.
“E não existe, porque nunca comprei o silêncio de ninguém”, disse. “Nunca fiz
nada para a obstrução do Judiciário. Ou seja, houve falso testemunho à
Justiça.”
Sobre o fato de o empresário ter dito que havia conseguido ajuda de um
procurador e de dois juízes federais para suas causas e ele ter respondido
“ótimo, ótimo”, Temer afirma que achou que era bravata de Joesley. “Não
acreditei na narrativa do empresário de que ele tinha comprado juiz etc. Ele é
um conhecido falastrão, exagerado. Depois, disse [na delação] que tinha
inventado essa história. Ou seja, era fanfarronice”, afirmou.
Economia
Para ele, o escândalo atrapalhou a retomada da economia que o seu
governo vinha promovendo. “O Brasil, que tinha saído da mais grave crise
econômica de sua história, vive agora dias de incerteza”, disse, citando a
recuperação do PIB, o fim da recessão e a queda da taxa de juros, além das
reformas trabalhista e da Previdência que vem tentando aprovar no Congresso.
“Eles [empresários da JBS] tentam macular, não só a reputação moral do
presidente da República, mas tentam invalidar esse país”, afirmou.
No final, voltou a dizer que o havia dito no primeiro pronunciamento
após o escândalo, na quinta-feira: não vai renunciar ao cargo. “O Brasil não
sairá dos trilhos, vou continuar à frente do país’, disse. (Via: Veja)
Blog: O Povo com a Notícia