Quando Tiririca se elegeu
deputado federal, a gritaria tomou conta dos jornais, da internet e da própria
televisão. Se um palhaço profissional podia ocupar uma cadeira do legislativo,
então tínhamos a prova definitiva de que o brasileiro é irresponsável enquanto
eleitor.
Você se lembra disso?
Participou das ladainhas de indignação?
Ou foi da turma que acreditava na eleição de Tiririca como
uma forma de protesto?
Tempos atrás, quando o eleitor estava de saco cheio com os
políticos, limitava-se a rasurar a cédula. Essa rasura, normalmente acompanhada
de palavrões, mandava uma mensagem bastante clara ao sistema político: “nenhum
dos f… d… p… inscritos serve para o cargo”.
O advento da urna eletrônica extinguiu essa modalidade de
manifestação. Como escrever um palavrão para indicar que nenhum dos candidatos
interessa? Como votar no Macaco Tião, já que o número e a foto dele não
aparecem na telinha? Os candidatos folclóricos ou francamente ridículos
surgiram como uma duvidosa saída pela tangente.
E assim teríamos uma explicação menos vexaminosa de como um
nome como o de Tiririca pôde chegar ao Congresso Nacional.
O mais intrigante é que o tempo passou e a imprensa — mais de
deboche do que pra valer — começou a retratar Tiririca como um “deputado
exemplar”. Não que tivesse a capacidade de promover ou aprovar projetos
relevantes, não era isso, mas o fato é que ele nunca faltava às sessões e, até
onde podíamos saber, nunca tinha metido a mão em dinheiro público.
E isso, para Brasília, está mais do que bom. Chegamos a um
grau tão elevado de descrença que o simples fato de o político não se envolver
em jogadas ilícitas já o qualifica como um exemplo a ser seguido.
Eis que de repente somos informados dos desvios do
palhaço-deputado. De acordo com nota de Gabriel Mascarenhas publicada no blog Radar, da
Veja, Tiririca usou dinheiro público “para viajar e fazer show”. Ciscou a verba
de gabinete para comprar uma passagem de Ipatinga (MG) para Brasília.
Até tu, Tiririca?
No horário eleitoral gratuito, o humorista usava o slogan
“pior que tá não fica”. Pois ficou. O último bastião da moralidade pública, um
palhaço, acaba de sucumbir.
Até na piada a esperança chegou ao fim.
Blog: O Povo com a Notícia
Via: Veja