Desde que Marílson Gomes dos
Santos cruzou a linha de chegada da São Silvestre como o vencedor da edição de
2010, o Brasil não sabe o que é ter um ganhador na mais tradicional prova de
rua do país, que neste domingo (31) chega a sua 93ª edição.
O jejum de seis anos é o maior vivido pelos atletas nacionais na prova
masculina desde o início dos anos 1990. A vitória de Ronaldo da Costa, em 1994,
acabou com uma seca de oito edições, iniciada após a prova de 1985, conquistada
por José da Silva.
Após 1994, o máximo de tempo que o país havia ficado sem vencedor era de
cinco edições -de 1998 a 2002.
Na fase internacional da corrida, iniciada em 1945, o maior jejum foi de
33 edições, entre 1947 e 1980.
"A São Silvestre não permite erros. Você precisa estar 100%. O 99%
não é suficiente. Quem quer ganhar a São Silvestre, precisa colocá-la como uma
prioridade e não apenas um encaixe no calendário. Você precisa respirá-la em
todos os seus treinamentos", disse Franck Caldeira, 34, vencedor da
corrida em 2006 e que volta a disputá-la pela primeira vez desde 2010.
"Infelizmente, hoje no Brasil, são poucos os atletas que podem
colocar a São Silvestre como uma prioridade. Muitos precisam correr diversas
provas para conseguir dinheiro com as premiações. Não são muitos que têm o
suporte de um clube", disse o corredor da B3 Atletismo.
Marílson, que venceu também em 2005 e 2003, corrobora a visão de
Franck."Acho que ninguém no Brasil olha para a São Silvestre como deveria.
É a prova mais tradicional, que te dá visibilidade, faz você ser conhecido. Não
deveria ser apenas um encaixe no calendário."
Aposentado desde o fim da Olimpíada do Rio, em agosto de 2016, Marílson
trabalha como coordenador das divisões de base da B3. Em sua carreira, teve
como maior glória o bicampeonato da Maratona de Nova York. Mas, para ele, foram
os títulos na São Silvestre que o tornaram um nome conhecido no país.
"Algumas vezes saio para dar uma corridinha e o pessoal sempre me
pergunta se vou correr a São Silvestre. É uma coisa que marca muito."
Nos seis anos que se passaram desde o triunfo de Marílson, Quênia e
Etiópia dominaram a prova. Cada país registrou três vitórias.
O último a ganhar foi o etíope Leul Aleme, que não disputa a prova deste ano.
Em compensação, o queniano Stanley Biwott, vencedor em 2015, estará
presente e aparece como um dos favoritos, ao lado dos compatriota Paul
Lonyangata, campeão da Maratona de Paris deste ano, e de Dawit Admasu, etíope
vencedor em 2014.
Adauto Domingues, ex-treinador de Marílson, reconhece que o jejum é
grande, mas não o vê como um incômodo para os atletas do país.
"Me incomodaria se não tivéssemos ninguém em condições de vencer, o
que não é o caso. Se você analisar, o Giovani dos Santos é um rapaz que tem
sempre batido na trave, se posicionando para vencer, e temos alguns outros
também, como o Ederson Pereira e o Gilmar Silvestre."
Giovani, 36, é de fato quem tem registrado o melhor resultado entre os
brasileiros ao longo das últimas edições.
Ele foi quarto colocado no ano passado e em 2013 e quinto em 2015, 2014 e
2012.
"Em meu currículo falta a São Silvestre, e com certeza é uma
prioridade. Me sinto em condições de vencer, mas tudo dependerá do momento. No
ano passado, eu fui puxando o ritmo e faltou perna na subida da Brigadeiro.
Ainda estou pensando em qual estratégia usar neste ano. E pode ser até que mude
na hora", disse o corredor, que ficou dois meses afastado por causa de uma
canelite e só retornou às corridas em 3 de dezembro, na Volta da Pampulha, em
Belo Horizonte.
OUTRO JEJUM
Entre as mulheres, o período sem triunfos do Brasil é maior ainda e
remete ao ano de 2006, com Lucélia Peres.
Desde então, só Quênia e Etiópia fizeram vencedoras, com sete e três
triunfos cada, respectivamente. (Via: Folhapress)
Blog: O Povo com a Notícia