Cética da aprovação da reforma da
Previdência em 2018, a equipe econômica de Michel Temer deu ordem para que o
pacote de bondades anunciado -e aprovado- nas últimas semanas pelo Congresso
seja esvaziado.
Segundo a Folha apurou, medidas negociadas em troca de apoio deverão
sofrer alterações, como a liberação de verba a municípios, o projeto que
permite o parcelamento de dívidas (Refis) de micro e pequenas empresas e o que
dá aval a União, Estados e municípios para venderem ao setor privado o direito
sobre créditos parcelados, a chamada securitização.
A avaliação de integrantes do Ministério da Fazenda é que, sem a reforma
da Previdência, o governo não terá dinheiro para cumprir compromissos e manter
a meta fiscal do ano que vem, fixada em um deficit de R$ 159 bilhões.
Prefeitos e deputados devem ser os primeiros prejudicados. Isso porque
Temer havia prometido a liberação de mais R$ 3 bilhões aos municípios em 2018,
caso a reforma fosse aprovada, desde que metade desses recursos fosse utilizada
em projetos na área da saúde.
Além disso, o presidente remanejou R$ 5,3 bilhões do Orçamento de 2018
para repassá-los aos parlamentares às vésperas da eleição. Integrantes da
equipe econômica afirmam, em caráter reservado, que o governo terá que cortar
várias dessas medidas e amenizar algumas delas, que não poderão ser totalmente
suspensas.
Ao longo da semana, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) estava
pessimista quanto à aprovação da nova Previdência neste ano -o governo sabia
nunca ter chegado perto dos 308 votos necessários na Câmara. O adiamento da
votação para fevereiro, anunciado na semana passada pelo presidente da Casa,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), sacramentou as expectativas.
Meirelles espera ser candidato com apoio do Palácio do Planalto no ano que
vem. As projeções de investidores e empresários com quem o ministro
conversou nas últimas semanas mostravam que as chances de aprovação em 2017
eram pequenas, mas ainda maiores do que em 2018, ano eleitoral em que os
parlamentares não estarão dispostos a discutir assunto considerado impopular.
NOVA CARTADA: Apesar da estratégia montada para enfrentar o cenário ruim, o Planalto
decidiu flexibilizar mais uma vez o texto da reforma com uma possível regra de
transição para aqueles que ingressaram no serviço público antes de 2003.
A medida vai contra o argumento do próprio governo, que faz discurso sobre
o fim dos privilégios. A ideia foi recebida a contragosto por Meirelles,
que acredita que outra mudança vai trazer ainda mais perdas para a economia da
União.
Na semana passada, o secretário de Política Econômica do Ministério da
Fazenda, Fabio Kanczuk, afirmou que, sem a reforma da Previdência, a projeção
para o PIB de 2018 cairá em 0,15 ponto porcentual, de 3% para 2,85%. No caso de
aprovação, a estimativa de alta do PIB no ano que vem sobe 0,30 ponto
porcentual -de 3% para 3,3%.
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