Fernando Henrique Cardoso (PSDB)
tem dito que não gostaria de ver Lula (PT) preso e que seria "chato"
um ex-presidente ir parar na cadeia, mas deu a entender nesta quinta-feira (14)
que o petista já teve seu maior castigo: está morto politicamente, na visão do
tucano.
"O Lula, ele mesmo se matou, como símbolo. De tudo que ele
representava, de novo, de puridade, não sei o quê. Como é que vai representar
hoje, com tantas evidências na outra direção?", afirmou. Condenado em
primeira instância pelo juiz Sergio Moro no caso do tríplex em Guarujá (SP),
Lula teve o julgamento de seu recurso no Tribunal Regional Federal da 4ª Região
marcado para o dia 24 de janeiro.
Para o tucano, "o que está aparecendo" sobre o adversário
contraria "a esperança de uma nova ética, de um novo tipo de
comportamento" que o petista dizia significar. "[Lula] se matou no
sentido político", disse FHC em debate na fundação que leva seu nome, na
região central de São Paulo. Debate, não, corrigiu o ex-presidente antes de
iniciar sua fala. "Porque isso pressupõe que um esteja contra o outro ou
tenha alguma divergência. E eu não tenho", disse, dirigindo-se ao colega
de mesa, o senador Cristovam Buarque (DF), pré-candidato do PPS à Presidência
da República em 2018. Os dois conversaram sobre a crise brasileira e o futuro
do país durante o lançamento de "Brasil, Brasileiros - Por Que Somos
Assim?", livro organizado pelo senador com os pesquisadores Francisco Almeida
e Zander Navarro.
Na saída do evento, FHC disse que o Brasil vive um momento em "em que
é preciso que haja liderança". "Se o PSDB for capaz de exercer a
liderança, muito bem. Se não for, alguém outro vai exercer", afirmou ele,
que no sábado (09) discursou em defesa da pré-candidatura ao Planalto do
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
O ex-presidente minimizou os levantamentos de intenção de voto, falando
que eles "não significam muita coisa" e que a eleição ainda está
distante. Com 6% na pesquisa Datafolha divulgada no início do mês, Alckmin
aparece muito distante de Lula, que lidera com 34%.
IRA X URNA : Durante a conferência, em autocrítica à classe política, o ex-presidente disse
que a crise de confiança nas lideranças é grande "porque se quebrou o encanto".
"Tem que reencantar. E não no mau sentido, de mistificar, mas no sentido
de as pessoas poderem verificar que efetivamente você acredita e você cumpre
aquilo que você está propondo."
Para Cristovam, a superação do problema de representatividade depende da
coesão entre os cidadãos e da mudança de comportamento dos políticos. "A
grande raiva, a ira, não é o estelionato apenas que houve em 2014 [na reeleição
de Dilma Rousseff]. A grande raiva é a distância entre os privilégios,
mordomias, vantagens, desprezo da elite dirigente, e o povo", afirmou.
Segundo o senador, a divisão da sociedade brasileira é movida hoje pela
"ira". E o sentimento, diz, "não combina" com eleição.
"A urna que sai da ira em geral leva a desastres. Mas hoje nós estamos
caminhando para isso."
'POBRE
MATANDO POBRE' : Ao apontar a segurança pública como um dos principais problemas hoje no país,
Fernando Henrique disse que a criminalidade preocupa mais a população "nas
zonas pobres. É pobre matando pobre, em grande quantidade". "Segurança
hoje não é segurança para nós, é segurança para o povo", afirmou à plateia
de convidados no auditório da fundação. "Quem tem medo de morrer não somos
nós. Quem tem medo, no dia a dia, de morrer é onde há crime."
Para o tucano, se o discurso do combate à violência "for apropriado
pelos autoritários, eles ganham". "Não pode deixar, porque não
resolve matando. É pior." A saúde pública, na opinião do ex-presidente, é
equivocadamente apontada como "o que vai pior" no Brasil. "Isso
não é verdade. Quem não usa acha que é ruim, quem usa não reclama tanto. Eu
digo sempre: eu uso SUS, eu vou ao hospital do SUS", afirmou. "Bem ou
mal, hoje existe o SUS."
Ao falar de educação, bandeira de atuação do senador Cristovam, FHC
mencionou a diminuição do alfabetismo e a inclusão escolar como avanços
ocorridos nos últimos anos. "Quando eu estava no governo, entre os negros
25% estavam fora da escola. Hoje se aproxima dos 98% os que estão na escola.
[Dizem:] 'Ah, mas a escola é uma porcaria'. É verdade. A qualidade deixa a
desejar." (Via: Folhapress)
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