Criado em 1987, o Dia Mundial
contra a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é lembrado hoje (1º) e
existe para alertar a humanidade para um dos maiores problemas de saúde
pública, que já matou mais de 35 milhões de pessoas, 1 milhão delas somente em
2016.
Segundo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e do
Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), divulgado nesta
quinta-feira (30), a ampliação do acesso a todas as opções de prevenção ao HIV
(Vírus da Imunodeficiência Humana) poderia reduzir o número de novos casos do
vírus na América Latina e Caribe, que desde 2010 se mantêm em 120 mil por ano.
As informações do relatório e os dados do Unaids revelam que 64% dos novos
casos de HIV na América Latina ocorrem em homens gays, profissionais do sexo e
seus clientes, mulheres trans, pessoas que usam drogas injetáveis e nos
parceiros dessas populações-chave. Outro fato que chama a atenção é o aumento
de infecção entre os jovens: um terço das novas infecções ocorre em pessoas de
15 a 24 anos.
A Unaids avalia que para reduzir as novas infecções entre as
populações-chave é preciso adotar ações de prevenção do HIV que sejam
específicas e de alto impacto, além de acesso a tratamento para todos.
Em comunicado à imprensa, o diretor regional do Unaids para América Latina
e o Caribe, César Núñez, defendeu que é preciso também ter “um compromisso
inabalável com o respeito, a igualdade de gênero, a proteção e a promoção de
direitos humanos, incluindo o direito à saúde”.
O diretor-executivo do Unaids, Michel Sidibé, destacou a importância de
garantir o acesso à saúde a todos para enfrentar a doença. “Mesmo com todos os
sucessos, a Aids ainda não acabou. Mas, se assegurarmos que todas as pessoas,
em todos os lugares, tenham acesso ao seu direito à saúde, a Aids pode acabar”,
disse.
Quase 21 milhões de pessoas portadoras do HIV estão em tratamento no mundo
e o número de novas infecções e mortes relacionadas à Aids está em declínio em
vários países. Na Europa Oriental e Ásia Central, no entanto, o número de novas
infecções aumentou 60% desde 2010 e as mortes relacionadas à Aids cresceram
27%.
Na África Ocidental e Central, duas em cada três pessoas estão sem acesso
ao tratamento. “Não podemos ter uma abordagem de dois pesos e duas medidas com
para acabar com a epidemia de Aids”, avalia Sidibé.
O infectologista Pablo Sebastian Velho trabalha há dez anos com pacientes
soropositivos na Secretaria de Saúde de Santa Catarina e destacou que o
programa brasileiro de tratamento de HIV é uma referência mundial. “Temos hoje
os melhores medicamentos do mundo para oferecer aos pacientes, e
gratuitamente.” Uma evolução no tratamento brasileiro, obtida ao longo dos
anos, é a possibilidade de ser iniciado o tratamento já na primeira consulta.
HIV é um vírus que se espalha através de fluídos corporais
O HIV é um vírus que se espalha através de fluídos corporais e afeta
células específicas do sistema imunológico, conhecidas como células CD4 ou
células T. Atualmente, não há cura efetiva e segura, mas o HIV pode ser
controlado com medicamentos.
Muitos não sabem, mas ser portador do vírus HIV e ter Aids são duas coisas
bem diferentes. “O vírus HIV é o causador da Aids, mas isso não significa que
todas as pessoas que têm o vírus vão desenvolver a Aids. E isso se deve, e
muito, aos medicamentos que temos disponíveis no país”, disse o especialista
Pablo Velho.
O infectologista explica que a única maneira de evitar que a Aids se
desenvolva é fazer o tratamento adequado. “Se nada for feito para interromper o
processo de evolução natural da doença, ela vai chegar. Em alguns indivíduos
isso acontece de forma muito rápida, e eles podem desenvolver a Aids em até
dois anos após o contágio. Na outra ponta, há algumas pessoas que podem levar
mais de dez anos. Na média, são sete anos, mas não se pode confiar nisso porque
varia de pessoa para pessoa e não faz sentido esperar a pessoa ficar mal para
começar o tratamento”, explicou.
O tratamento pode deixar o paciente com uma carga viral indetectável e,
assim, o vírus se torna intransmissível na relação sexual, desde que não
existam outros fatores que aumentam o risco de transmissão, como, por exemplo,
ter sífilis, o que causa lesões que aumentam o risco de contaminação.
Prevenção é o melhor remédio
A principal arma existente hoje contra a transmissão de HIV no Brasil,
considerando que a transmissão em larga escala é sexual, é o uso de
preservativo. Mas o infectologista Pablo Velho esclarece que há uma outra
alternativa disponível na rede pública de saúde para evitar a contaminação em
caso de exposição ao vírus.
“Existe uma forma, semelhante à pilula do dia seguinte em relação à
gestação, que é, depois de ter uma exposição sexual de risco, receber um
medicamento que diminui a chance de se contaminar pelo HIV em unidades de
saúde”, explicou.
Essa estratégia é chamada de Profilaxia Pós-Exposição, usada para casos de
violência sexual ou de exposição de risco ocasional. “Se bebeu demais, nem
lembra se usou preservativo ou sabe que não usou, procure uma unidade que você
tem o direito à prevenção”, explica o especialista. Para funcionar, a medicação
deve ser administrada em até 72 horas após a relação desprotegida e precisa ser
tomada durante 28 dias. “Quanto antes, mais eficaz” afirma.
Este mês, o Brasil vai adotar uma nova estratégia, a profilaxia
pré-exposição. Pessoas que têm um risco aumentado de infecção – como, por
exemplo, os profissionais do sexo e pessoas soronegativas que são casadas com
pessoas soropositivas, entre outros – vão poder receber um medicamento que
diminui o risco de contaminação quando expostas.
O especialista ressaltou que as profilaxias não excluem a necessidade de
uso do preservativo, que continua sendo a melhor forma de evitar a contaminação
tanto pelo HIV como pelas outras doenças sexualmente transmissíveis.
Outro fator importante para a queda no número de transmissões é a oferta
de testes para que as pessoas contaminadas pelo HIV saibam da sua condição e
possam iniciar o tratamento. Na América Latina, duas em cada 10 pessoas vivendo
com HIV, e 4 em cada 10 no Caribe não sabem que têm o vírus. (Via: Agência Brasil)
Blog: O Povo com a Notícia