Modelo de combate às organizações criminosas defendido pelo ministro da
Justiça, Sérgio Moro, a Operação Lava Jato perdeu o ímpeto no Paraná, mas se
espalhou pelo País. Números da Divisão de Combate ao Crime Organizado, da
Polícia Federal (PF), mostram que o total de prisões em casos envolvendo
organizações criminosas atingiu seu ápice em 2018, com uma média de 410 casos
por mês. Em relação aos 233 registros de 2014, ano em que a Lava Jato começou a
investigar desvios na Petrobrás, a alta é de quase 76%.
“A intensificação do combate às organizações criminosas nos outros
Estados é uma leitura que está correta. A Lava Jato criou um modelo que
permitiu a utilização de instrumentos, como a delação premiada, com segurança e
eficiência”, diz a subprocuradora-geral da República Monica Nicida. Como
comparação, a Lava Jato de Curitiba registrava em 16 de novembro – data em que
Moro deixou a magistratura – uma queda de 15% nas prisões ante 2014.
Os números da PF, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação,
mostram esse efeito. As prisões em casos de organizações criminosas envolvidas
com delitos financeiros ou desvio de verbas públicas aumentaram desde 2016 em
16 das 27 unidades da Federação. Foi nesse ano que a Lava Jato, cuja maioria
das investigações já foi encerrada, registrou o maior número de detenções no
período (68) – em 2018, o total fechou em 49.
Entre os Estados com aumento nas prisões de acusados de envolvimento em
organizações criminosas destaca-se o Rio de Janeiro, que viu quadruplicar esse
número. Foram 186 casos no ano passado, ante 46 em 2016, ano em que o
ex-governador Sérgio Cabral (MDB) foi preso. Desde então, uma série de detenções
ocorreu no Estado a partir de desdobramentos das investigações do Ministério
Público. No fim de 2018, sobrou até para o então governador, Luiz Fernando
Pezão, acusado de dar continuidade ao esquema de Cabral – eles negam as
acusações.
“A Lava Jato foi mais circunstancial do que planejada, pois a Polícia
Federal já vinha atuando fortemente no combate à corrupção, mas o juiz Moro tem
o mérito de ter imprimido a celeridade aos processos”, afirma Edvandir Félix de
Paiva, presidente da Associação Nacional dos Delegados da PF. Integrantes da
Lava Jato falam em mais operações com a ida de Moro para o governo e rebatem
acusação de que a ação teve como único alvo políticos do PT.
‘Integridade’
Ao todo, 2.115 prisões foram decretadas entre 2014 e 2018 com base em
investigações da PF sobre organizações criminosas envolvidas no desvio de
verbas públicas no País. Para o cientista político José Álvaro Moisés, da USP,
isso é consequência do que chama de um “sistema de integridade” composto por
PF, Ministério Público Federal e Justiça Federal, fortalecido nos últimos anos.
“Um conjunto de instituições de fiscalização, controle e de aperfeiçoamento da
legislação que veio sendo progressivamente criado pelo Congresso e promulgado
por diferentes presidentes, inclusive pelo ex-presidente Lula, preso por
circunstâncias dessa legislação.”
A mesma legislação também passou a ser usada em outros campos criminais,
como o tráfico de drogas. É aqui que atuam as facções criminosas que o agora
ministro Moro quer combater com a mesma intensidade usada na Lava Jato. A
importância dessa atuação para a PF pode ser medida pela quantidade de prisões
de traficantes ligados a organizações criminosas feitas pelos federais entre
2014 e 2018: 7.149.
Orientação
Muitas dessas prisões ainda são feitas com base em flagrantes, mas aqui
também a PF passou a usar os instrumentos novos da legislação. Já o MPF, por
meio de suas 2ª Câmara (Criminal) e 5ª Câmara (Combate à corrupção), passou a
divulgar orientações para seus integrantes com informações, por exemplo, sobre
como fazer uma delação premiada ou um acordo de leniência.
“Hoje, está muito claro para a PF, o MPF, a Receita e a inteligência da
Previdência que temos de trabalhar para asfixiar o crime financeiramente e ter
como foco os grandes agentes e a recuperação de ativos. E isso vale para a
corrupção assim como para as milícias”, diz a subprocuradora-geral da República
Luíza Cristina Frischeisen, coordenadora da 2ª Câmara. (Via: Estadão)
Blog: O Povo com a Notícia