Ao final do ano em que a Lava
Jato foi contestada como nunca havia sido, o apoio da população à operação
permanece elevado, de acordo com a mais recente pesquisa do Datafolha.
Segundo levantamento nacional do instituto, 81% dos entrevistados
consideram que a investigação ainda não cumpriu seu objetivo e deve continuar.
Outros 15% disseram que a investigação deveria acabar, e 4% não souberam
responder.
A pesquisa ouviu 2.948 pessoas em 176 municípios de todo o país nos dias 5
e 6 na semana passada. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais
ou para menos.
A operação, criada em 2014 e que sofreu uma série de derrotas no
Judiciário em 2019, tem histórico de alta aprovação em levantamentos do
Datafolha nos últimos anos. Em abril do ano passado, após a prisão do
ex-presidente Lula, 84% disseram que ela deveria ser mantida.
Em julho deste ano, 55% dos entrevistados afirmaram que o trabalho de
autoridades envolvidas na operação era ótimo ou bom. Apenas 18% consideravam à época
a atuação ruim ou péssima.
No levantamento da semana passada, o Datafolha também perguntou aos
entrevistados se a corrupção no país vai diminuir, aumentar ou continuar na
mesma proporção depois da Lava Jato.
O resultado mostra ceticismo em relação aos efeitos da operação. Para 47%,
a corrupção continuará na mesma proporção de sempre, enquanto 41% entendem que
o problema irá diminuir. Para 10%, a corrupção irá aumentar.
Em abril de 2018, os números eram um pouco mais desfavoráveis à Lava Jato:
37% disseram que a corrupção iria diminuir e outros 51% afirmaram que o
problema continuaria na mesma proporção.
Ao longo de 2019, a operação sofreu um inédito abalo em sua credibilidade
devido a revelações de conversas no aplicativo Telegram de procuradores e do ex-juiz
Sergio Moro —atual ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro.
A série de reportagens do site The Intercept Brasil e de outros veículos,
como a Folha, mostrou proximidade entre o ex-magistrado e o procurador Deltan
Dallagnol em medidas da investigação, o que despertou críticas de ministros do
STF (Supremo Tribunal Federal) e até de políticos que costumavam defender a
operação.
O saldo negativo da Lava Jato no ano foi consumado com a decisão do
Supremo de barrar a prisão de condenados em segunda instância, o que permitiu a
soltura de Lula, em novembro. Antes disso, a corte, por exemplo, já havia
anulado sentenças da operação e determinado o envio de casos da Justiça Federal
para a Justiça Eleitoral.
Entre os reveses da Lava Jato também estão a anulação de sentenças pelo
Supremo em decorrência da ordem de fala de delatores e delatados nos processos,
a paralisação de investigações com dados do antigo Coaf (Conselho de Controle
de Atividades Financeiras), que já foi revertida, e a suspensão de um fundo
bilionário de reparação abastecido pela Petrobras que ficaria em parte sob
responsabilidade do Ministério Público.
A pesquisa da semana passada mostrou, nos recortes entre segmentos da
população, que as faixas mais críticas ao governo Jair Bolsonaro duvidam mais
dos efeitos da Lava Jato sobre a diminuição da corrupção.
Entre quem considera o trabalho do presidente ruim ou péssimo, 65%
entendem que a corrupção continuará na mesma proporção de sempre. O mesmo
índice aparece entre eleitores que se consideram de esquerda.
Bolsonaro ao longo deste ano se viu às voltas com desgastes nessa área,
como a investigação sobre desvios no antigo gabinete do hoje senador Flávio
Bolsonaro e a denúncia de apropriação de verbas públicas por meio de
candidaturas de laranjas do PSL —legenda pela qual o presidente foi eleito e da
qual saiu no mês passado para tentar criar uma nova, a Aliança pelo Brasil.
Para os entrevistados que se denominam de direita, a perspectiva de que a
corrupção irá diminuir sobe para 58%. Entre os que classificam o governo
Bolsonaro como ótimo ou bom, a taxa vai ainda além, para 72%.
Segundo o instituto, o apoio à Lava Jato permanece alto mesmo entre quem
declara como partido de preferência o PT, legenda mais crítica à operação, e
entre quem votou no presidenciável petista de 2018, Fernando Haddad. Em ambos
os recortes, 75% entendem que a Lava Jato ainda não cumpriu seu objetivo e deve
continuar.
A pesquisa também mostra que 85% dos homens apoiam a continuidade da
operação, ante 77% das mulheres, e que o respaldo à Lava Jato tende a ser um
pouco menor entre eleitores com renda familiar mensal de até dois salários
mínimos —76%.
Eleitores com nível de escolaridade superior são os que mais declaram
apoio à continuidade da operação, com 87%.
No recorte regional, o apoio à Lava Jato tende a ser mais alto no Sul (com
85%) em comparação com o Nordeste (76%).
Os entrevistados nordestinos também são os mais céticos em relação ao
efeito da Lava Jato sobre a diminuição da corrupção —só 34% concordam com essa
frase.
Algumas das
derrotas da Lava Jato no ano
Prisão em segunda instância
O Supremo decidiu em novembro que é inconstitucional que réus com condenação em
segundo grau comecem a cumprir suas penas. O novo entendimento da corte
permitiu a soltura do ex-presidente Lula, que agora aguarda em liberdade o
esgotamento de seus recursos nas instâncias superiores no caso do tríplex de
Guarujá (SP)
Anulação de sentenças
O Supremo decidiu em outubro anular sentença do ex-juiz Sergio Moro contra um
ex-gerente da Petrobras, devido à ordem de fala de delatores e delatados no
processo. Antes, em agosto, outra condenação já tinha sido revertida por esse
motivo por uma das turmas que compõem a corte
Indulto validado
Em maio, o Supremo decidiu validar indulto de Natal editado pelo então
presidente Michel Temer em 2017. A decisão permitiu não só a soltura de presos
da operação, como o ex-senador Gim Argello, como pôs fim a restrições que
delatores cumpriam
Envio de casos à Justiça Eleitoral
Em março, o Supremo decidiu que crimes como corrupção, quando investigados
juntos com caixa dois, devem ir da Justiça Federal para a Eleitoral
Reversão de prisões preventivas
Tribunais decidiram soltar presos da operação, como Beto Richa (PSDB). Nesta
quinta (12), conseguiu habeas corpus mediante fiança o empresário Walter Faria,
da cervejaria Petrópolis (Via: Folhapress)
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