Darlan Menezes Abrantes, de 39
anos, foi expulso da Polícia Militar por ter distribuído um livro de sua
autoria, “Militarismo: Um sistema arcaico de segurança pública”,
onde relata os pontos negativos da militarização da polícia, com depoimentos de
outros policiais. Além da expulsão, a Polícia pressionou o autor a identificar os policiais que
deram depoimento ao livro.
Em 13 anos de serviço à
Polícia Militar Darlan sempre teve um comportamento exemplar. O ex-policial é
formado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), estudou
Teologia pelo Seminário Batista e é pastor de uma Igreja Batista.
Conforme publicação na página 106 do Diário Oficial do Estado do Ceará de
17 de janeiro de 2014, a Polícia Militar instalou inquérito que culminou na
instauração da ação penal pela prática de crime tipificado do art. 166 do Código
Penal Militar (CPM).
(Publicar o militar ou assemelhado, sem licença, ato
ou documento oficial, ou criticar publicamente ato de seu superior ou assunto
atinente à disciplina militar, ou a qualquer resolução do Governo: Pena –
detenção, de dois meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave).
A expulsão foi baseada no
artigo 24 da lei 13.407/03. Além disso, a PM afirma que Darlan invadiu a
Academia e desrespeitou os oficiais. O policial distribuiu os livros nas portas
da Universidade Federal do Ceará (UFC), Uece e da Academia Estadual de
Segurança Pública do Ceará (Aesp-CE). Porém, segundo Darlan, a distribuição dos
livros foi feita do lado de fora da Aesp, e não dentro, conforme defendido pela
Polícia.
“O que aconteceu foi que os policiais que recebiam os livros entraram na Academia com os exemplares e mostravam aos colegas”, explica o autor. Durante a investigação, o presidente do Conselho de Disciplina da PM, Ricardo Catarina, deu parecer favorável apenas à punição de Darlan. Mas quando a investigação chegou à Controladoria, resultou na expulsão.
Darlan entrou para a PM em
1995, mas pouco tempo depois desistiu da atuação. Na época, já ouvia policiais
comentando sobre a necessidade de desmilitarizar a Polícia. Após cursar
Filosofia, o ex-policial fez um concurso para voltar à corporação. Apesar de já
conhecer como funciona o sistema, Darlan retornou à Polícia por questões
financeiras.
Livro
O objetivo do livro, segundo o
autor, é abrir a mente dos soldados acerca do sistema que existe dentro
da Polícia Militar. Segundo ele, trata-se de um sistema covarde
que trata a sociedade como inimigo. Na primeira edição do livro, Darlan não
teve nenhum problema. Mas na segunda, gerou repercussão a ponto de sua expulsão
da corporação.
“Como pode uma polícia
anti-democrática fazer a segurança de um país democrático?Quando
eu trabalhava na polícia, sentia como se estivesse viajando no tempo. Era como
se eu voltasse para Idade Média, onde os oficiais eram os Senhores Feudais e os
soldados eram os escravos”, comenta.
Darlan utiliza, em seu livro,
uma frase do escritor Rui Barbosa que resume bem o conteúdo da obra:
“Militarismo é para o exército assim como o fanatismo é para a religião.” No
último capítulo, o autor utilizou vários versículos bíblicos e conta uma
parábola sobre as três polícias, que na verdade são uma analogia ao
policiamento do Brasil, Inglaterra e Estados Unidos.
Segundo a advogada da
Associação de Profissionais da Segurança (ASP) e defensora de Darlan Menezes,
Quércia Andrade, o caso que está no Conselho de Disciplina em fase final pode
ter uma reversão da decisão, fazendo com que Darlan volte a atuar na Polícia
Militar.
“Nós acreditamos
verdadeiramente que haverá a reversão da decisão. O recurso já foi apresentado
e aguarda avaliação do Conselho. Ele (Darlan) tem um comportamento exemplar dentro da Polícia e
isso pode favorecê-lo”, explica a advogada. Além do processo
administrativo, Darlan responderá a um processo judicial, e será ouvido em
maio.
De acordo com o relações
públicas da Polícia Militar do Ceará, Coronel Albano, a polícia acatou uma
decisão expedida pela Controladoria ao expulsar Darlan Menezes. Com relação a
uma possível desmilitarização da Polícia, o coronel informou que esse é um
projeto em nível de Congresso Nacional e que não há um posicionamento da
instituição.
Blog: O Povo com a Notícia
Fonte: Tribuna do Ceará
Blog: O Povo com a Notícia
Fonte: Tribuna do Ceará