O que os políticos dizem espontaneamente em público nunca é tão importante quanto o que você ouve sem querer atrás da porta. Repare no que acaba de acontecer com o presidente do PDT, Carlos Lupi. Discursando para filiados do partido, em São Paulo, Lupi golpeou o petismo e os governos Lula e Dilma Rousseff abaixo da linha da cintura. Foi escutado pela repórter Isadora Peron, que obteve uma gravação do discurso.
Lupi disse coisas assim: “O PT exauriu-se, esgotou-se. Olha o caso da Petrobras. A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. Exageraram. O projeto deles virou projeto de poder pelo poder.”
Ou assim: “A conversa com o PT, com o meu amigo Lula e com a presidente Dilma, é qual o naco de poder que fica com cada um. Para mim, isso não basta. Eu não quero um pedaço de chocolate para brincar como criança que adoça a boca. Eu quero ser sócio da fábrica, eu quero ajudar a fazer o chocolate.”
Ou ainda: “A gente não quer ser um rato, que foge do porão do navio quando entra a primeria água, mas também não queremos ser o comandante do Titanic, que ficou no barco até ele afundar.”
Quanto à corrupção, Lupi conheceu-a por dentro. Ex-ministro de Lula e Dilma, foi varrido da pasta do Trabalho pela presidente sob variadas acusações de desvios. Portanto, é melhor não discutir com um perito no assunto.
Sobre o rateio que Lula e Dilma fizeram da Esplanada, Lupi participou gostosamente das conversas — mesmo depois de ter sido expurgado do ministério. Avalizou a nomeação do atual titular do Trabalho, Manoel Dias. Vá lá que não quisessem apenas adoçar a boca como criança. Mas precisava sumir com o chocolate?
Por último, como qualquer outro oportunista, Lupi tem o direito de escolher a melhor hora para saltar da embarcação. Mas convém não fazer pose de navio que abandona os ratos. Pode irritrar a turma da terceira classe.
A notícia sobre as manifestações de Lupi veio à luz na noite de sábado. Algumas pessoas aguardaram pela reação indignada do PT. E nada. Imaginou-se que Lula e Dilma reagiriam. Nem que fosse com uma cara de nojo. E nada. Noutros tempos, costumava-se perguntar: onde essa gente pretende chegar? Hoje, convém indagar: onde irão detê-los? (Por Josias de Souza/Estadão)
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