Um abismo social, econômico e de
infraestrutura separa os dez municípios brasileiros que têm as menores taxas de
homicídio do país (6,3 mortes por 100 mil habitantes, em média) das dez cidades
que concentram os maiores números de assassinatos do Brasil (103 mortes por 100
mil habitantes, em média).
É isso o que aponta novo relatório do Atlas da Violência 2018, publicação
do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada) em parceria com o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública.
O documento mapeou as mortes violentas nos municípios brasileiros com
população superior a 100 mil residentes, em 2016, com base nos dados do Sistema
de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, e cruzou essas
informações com indicadores de educação infantojuvenil, pobreza, mercado de
trabalho, habitação, gravidez na adolescência e vulnerabilidade juvenil.
Se a distância entre as taxas de homicídios (6,3 no primeiro grupo contra
103 no segundo) desses municípios impressiona, a comparação dos demais índices
desses locais aponta igualmente para extremos, sugerindo que paz ou violência
se alimentam de fatores como escolaridade, saneamento básico e ocupação de
jovens adultos.
Percentual de crianças pobres? Nas cidades com menos mortes, 6,2% das
crianças são pobres, nas cidades violentas, 25,3%.
Pessoas vivendo em domicílios sem água encanada nem esgoto adequados? Onde
há paz, apenas 0,5% moram nessas condições; onde há violência, são 5,9% das
pessoas.
Quantidade de jovens "nem-nem", aqueles que nem estudam nem
trabalham, de 15 a 24 anos? Nos municípios com menos mortes, há 4,3% deles. Já
naqueles onde mais se morre e se mata, eles são 14,1% do total desta faixa
etária.
"Há uma clara correlação entre as condições de desenvolvimento humano e as
taxas de mortes violentas", explica o economista Daniel Cerqueira,
pesquisador do Ipea que coordenou o estudo.
Segundo Cerqueira, não se trata de um destino inescapável. Pelo contrário,
ao indicar que os homicídios no Brasil estão concentrados em um percentual
restrito de cidades, o Atlas aponta para a possibilidade de intervenções
focalizadas que possam promover mudanças no curto e médio prazos.
"Verificamos que 123 municípios mais violentos do país concentram 50%
dos homicídios brasileiros. E, como é muito difícil mudar o Brasil de uma hora
para outra, isso indica que, a despeito de uma política universal, é preciso
pensar em ações territoriais nestas cidades."
O pesquisador evoca outro estudo do Ipea que demonstrou que 10% dos
bairros dos municípios mais violentos do país eram responsáveis por mais da
metade das mortes daquela cidade. "Ou seja, concentrando as atenções
nessas comunidades, podemos mudar o seu quadro e o do país."
O primeiro relatório do Atlas 2018, divulgado há duas semanas, mostrou que
o número de homicídios de jovens de 15 a 29 anos no Brasil cresceu 23% de 2006
a 2016, quando atingiu o pico da série histórica, com 33.590 vítimas nesta
faixa etária. Com isso, em 11 anos, o Brasil enterrou 324.967 jovens
assassinados -quase sete vezes o número de soldados americanos mortos em ação
(47.434) em 20 anos da Guerra do Vietnã (1955-1975). (Via: Folhapress)
Blog: O Povo com a Notícia