Para compensar o subsídio de R$
9,6 bilhões à redução do preço do diesel e a redução de tributos incidentes
sobre o combustível, o governo tomou medidas que, na prática, elevarão a
arrecadação de impostos de exportadores, indústria de refrigerantes e indústria
química.
Ainda foram reduzidos recursos, por exemplo, para programas ligados às
áreas de saúde e educação.
Ao lado da aprovação da reoneração da folha de pagamento, que já foi
votada na Câmara, as medidas permitirão um ganho de R$ 4 bilhões, o que
compensará as medidas que reduzirão a tributação do diesel: a isenção da Cide e
a redução de R$ 0,11 do PIS/ Cofins.
O governo ainda cancelou R$ 3,4 bilhões em despesas do Orçamento deste ano
como forma de compensar os R$ 9,6 bilhões do programa que foi criado para
subsidiar uma redução maior no preço do combustível.
As medidas foram publicadas nesta quarta-feira (30) em edição extra do Diário
Oficial da União.
O Reintegra devolvia 2% do valor exportado em produtos manufaturados
através de créditos de PIS/ Cofins. Esse percentual foi reduzido para 0,1%, o
que gerará recursos de R$ 2,27 bilhões até o final do ano.
A redução da alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)
sobre concentrados de refrigerantes de 20% para 4% permitirá um ganho de R$ 740
milhões até o final do ano. Isso porque os fabricantes gerarão menos créditos
para abaterem impostos.
A alteração da tributação de um programa para a indústria química, o
Regime Especial da Indústria Química, aumentará receitas em R$ 170 milhões.
Quando a empresa importava, pagava 5,6% de PIS/ Cofins e recebia um
crédito de 9,25%. Essa "sobra" de 3,65%, que era usada para
abatimento de outros impostos, foi extinta.
No caso da reoneração da folha de pagamento, que segundo o secretário da
Receita Federal, Jorge Rachid, isentará um número menor de setores do que o
aprovado na Câmara, o ganho até o final do ano será de R$ 830 milhões.
O projeto de lei aprovado na Câmara previa que 28 setores estariam isentos
da reoneração da folha. Mas o presidente Michel Temer vetou 11 desses setores,
o que deixou 17 com isenção.
Entre os que mantiveram o benefício estão calçados, construção civil,
fabricação de veículos, transporte rodoviário e indústria têxtil, entre
outras.
De acordo com o secretário da Receita, a escolha dos benefícios a serem
retirados foi feita com base na distorção que geram no sistema tributário.
"Os gastos tributários no Brasil são elevados, fora do padrão
mundial", afirmou Rachid, se referindo aos benefícios que diversos setores
possuem no pagamento de tributos. "Escolhemos os incentivos que geram
alguma distorção", completou.
Segundo ele, no caso da taxação de concentrados usados na fabricação de
refrigerantes, por exemplo, há a geração de créditos em volume superior ao
imposto devido em si, devido aos benefícios vigentes na Zona Franca de Manaus.
"Já foi identificado que algumas empresas usam esse excesso de
crédito em refrigerantes para compensar em cerveja, por exemplo", disse
Rachid. "Muitos contribuintes pagam para poucos serem beneficiados".
Em 2019, o aumento de arrecadação com essas medidas será de cerca de R$ 16
bilhões.
CORTE DE
PROGRAMAS
O governo ainda anunciou um corte de despesas de R$ 3,4 bilhões para
compensar o programa de subsídios ao diesel.
Esse valor foi alcançado com o cancelamento de uma reserva para
capitalização de estatais, de R$ 2,1 bilhões, e o corte de recursos previstos para
uma série de programas (R$ 1,2 bilhões).
Segundo Gleisson Rubin, secretário executivo do Ministério do
Planejamento, essas despesas já estão bloqueadas do Orçamento. Até antes do
decreto desta quarta, esses gastos poderiam ser desbloqueados até o final do
ano. Agora não poderão mais.
"O cancelamento de recursos vai se dar em cima de recursos
contingenciados. Dessa forma, perde-se a perspectiva de que os recursos possam
voltar a ser utilizados", afirmou.
De acordo com Rubin, o cancelamento de despesas afeta todos os órgãos do
governo, e foi feito de forma "pulverizada".
"A distribuição dos cortes foi a mais pulverizada possível, porque se
você concentra em poucos programas, praticamente erradica esses
programas", disse.
Os programas de transporte terrestre do Ministério dos Transportes, por
exemplo, que envolvem adequação e construção de 40 obras, perderam R$ 368,9
milhões em recursos.
Ainda foram reduzidos recursos, por exemplo, para programas como prevenção
e repressão ao tráfico de drogas (R$ 4,1 milhões), concessão de bolsas de um
programa de estímulo ao fortalecimento de instituições de ensino superior (R$
55,1 milhões), policiamento ostensivo e rodovias e estradas federais (R$ 1,5
milhões) e fortalecimento do sistema único de saúde, com R$ 135 milhões.
Ao mesmo tempo, foram criados recursos para o programa "operações de
garantia da lei e da ordem", com o objetivo de desobstruir estradas, no
valor de R$ 80 milhões.
ENTENDA
As mudanças tributárias e o corte das despesas anunciado nesta
quinta-feira (31) fazem parte das ações do governo para compensar as perdas
orçamentárias causadas pela redução no preço do óleo diesel.
Pelo acordo fechado com caminhoneiros grevistas, o governo se comprometeu
a baixar o preço do litro do diesel em R$ 0,46 na refinaria. O valor ficará
congelado por 60 dias. O impacto total da medida é estimado em R$ 13,5 bilhões.
Do desconto total, R$ 0,16 serão alcançados com isenção da Cide
(Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) e uma redução de PIS/Cofins
sobre o diesel, o que deve provocar um impacto de R$ 4 bilhões.
Uma parte pequena desse valor será absorvida com recursos provenientes da
aprovação da reoneração da folha de pagamentos de diversos setores da economia.
O restante será manejado com retirada de benefícios fiscais, segundo
afirmou o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.
Os R$ 0,30 restantes serão cobertos por um programa de subvenção, com
custo de R$ 9,6 bilhões.
Para compensar esse subsídio, o governo já conta com R$ 5,7 bilhões em excesso
de arrecadação do governo federal.
Para fechar a conta, o governo ainda precisou encontrar meios para
compensar o rombo restante. Essa é a parcela que levou o Ministério da Fazenda
a anunciar o cancelamento das despesas.
COMPETITIVIDADE
Associações empresariais ouvidas pela Folha dizem que as alterações nos
programas de incentivo às companhias brasileiras podem levar a perda de
competitividade internacional e aumento de custos.
Em nota, Júlio Talon, presidente do Fórum de Competitividade das
Exportações da CNI (Confederação Nacional da Indústria), disse que a não
renovação do Reintegra coloca em risco o crescimento das exportações
brasileiras e do Produto Interno Bruto.
A confederação afirma que o Reintegra não é uma desoneração. Em vez disso,
é uma restituição de impostos indiretos que são cobrados na cadeia produtiva da
indústria exportadora, que deveria ter imunidade tributária.
"Na prática, o programa corrige uma anomalia do sistema tributário
nacional, que mantém impostos em cascata e eleva o custo dos bens produzidos no
Brasil. A Constituição garante a imunidade tributária das exportações."
Na nota, Talon diz que Os exportadores brasileiros fizeram seu
planejamento tributário e de investimento com base na restituição desses
resíduos tributários.
Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim (associação da indústria
química), diz que as alterações no Regime Especial da Indústria do setor, que
garantia menor tributação na compra de insumos, acarretará a perda de
competitividade da indústria nacional e aumento de preços para consumidores.
Figueiredo diz que, desde sua criação, em 2013, o regime previa reduções
graduais no benefício. Conforme a tributação sobre o setor aumentava, companhias
internacionais ganhavam mais espaço no mercado brasileiro, diz.
"Durante certo tempo, ficou mais fácil competir com importados e a
indústria brasileira tinha mais de 70% do mercado. Hoje, importados são
38%." (Via: Folhapress)
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