ARARIPINA (PE) – Vilmar da Silva Carvalho, 58 anos, anda com firmeza
pela plantação de mandioca de 80 hectares que mantém na Serra da Torre, no
município de Araripina, a 680 km do Recife. Com agilidade, o agricultor arranca
da terra a raiz que é motivo de alegria. “Costumo dizer que eu tenho três mães.
A do Céu, que é Nossa Senhora; a da terra, que me trouxe ao mundo e esta daqui,
que deu minha riqueza, é a mãedioca”, sorri.
A satisfação com o trocadilho tem explicação. Seu Vilmar comemora a boa
safra possibilitada pelo inverno, que aumentou a produção em torno de 30%.
Celebra também o novo mercado que se abriu a partir deste ano. A família de seu
Vilmar, junto com outras cinco da região do Araripe, foi escolhida pela cervejaria
Ambev para fornecer a mandioca que compõe a receita de sua nova bebida: a
cerveja Nossa. Lançada há dois meses, ela é produzida em Itapissuma, Região
Metropolitana do Recife, com receita exclusiva que leva amido em sua
composição. O amido vem das mandiocas plantadas por pequenos agricultores do
Araripe.
“Antes, toda nossa produção de mandioca era para fazer farinha ou goma
de tapioca. Mas produzir farinha é caro porque gasta muita energia elétrica e
água”, diz Gilmar Carvalho, filho de seu Vilmar. Ele diz que a família acabava
na mão do atravessador, que pagava “o quanto queria” pela raiz. “Abaixo de R$
150 a tonelada não compensa nem produzir”, diz ele, explicando que o preço do
produto varia muito ao longo do ano, podendo cair muito ou passar dos R$ 350 a
tonelada, dependendo da oferta e da procura. Com a entrada de um comprador de
grande porte, como a Ambev, os produtores têm o preço garantido para aquela
safra, o que acaba gerando lucros maiores.
MANDIOCA
Quem também
fez as contas foi Silvano Moraes Coelho. Filho e neto de agricultores, ele
havia escolhido outro destino. Lecionou geografia por dez anos em escolas
públicas de Araripina. Mas há dois anos, largou a sala de aula e decidiu mapear
as possibilidades da Serra do Inácio, já quase na divisa com o Piauí. A
altitude de 860 metros acima do nível do mar é boa para a mandioca, ensina
Silvano, mostrando que não esqueceu as lições de geografia. “Comecei a cuidar
da roça de 50 hectares de mandioca junto com meus irmãos e primos. Em junho,
vendi 150 toneladas para a Ambev. Agregou valor e deu moral ao nosso produto”,
diz Silvano, que já planeja ampliar a área plantada para 100 ou 120 hectares no
próximo ano, caso o inverno seja tão bom quanto foi em 2018.
O engenheiro
agrônomo da Ambev, Vitor Pistoia, explica que desde o início, a ideia era ter
um novo produto que tivesse a ver com a cultura local. “Há dois anos, pensamos
em produzir uma cerveja que fosse feita em Pernambuco, para ser vendida apenas
no Estado e com um viés social.” Vitor, que é gaúcho, visitou várias vezes a
região do Araripe em busca dessas famílias. “Usamos como critério para a
seleção dos agricultores os que mantêm boas práticas de manejo do solo,
preservação do meio ambiente e sintonia com o compliance da Ambev”, diz. Apesar
de não revelar números de produção ou mesmo de investimentos, Vitor Pistoia
garante que o projeto ainda está em fase inicial e tem bastante espaço para
crescer. Até o fim do ano, a expectativa é de que a cerveja pernambucana esteja
disponível em 10 mil pontos de venda no Estado.
A chegada da
Ambev em Araripina fez a roda da economia girar. Uma fábrica de fécula de
mandioca foi contratada pela Ambev para produzir o amido usado na cerveja. A
empresa estava praticamente parada desde a sua inauguração, há seis anos. Uma
seca que durou todo esse período fez a produção cair, inviabilizando o
investimento de R$ 30 milhões. “Hoje estamos processando 200 toneladas de
mandioca por dia, mas temos capacidade para processar até 600 toneladas”,
afirma Cristiano Coelho, gerente da Amido Maxx, que emprega 25 pessoas e compra
a raiz por R$ 250 a tonelada.
O repórter
viajou a convite da Ambev
Blog: O Povo com a Notícia
Via: Jc Online