O futuro ministro das Relações Exteriores do governo Jair Bolsonaro,
Ernesto Araújo, escreveu em artigo publicado na segunda-feira, dia 26, no
jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, que vai “acabar com a ideologia em política
externa”, e que o presidente eleito confiou a ele a missão de “libertar o
Itamaraty” do “marxismo cultural”.
O novo chanceler afirma que pautará sua atuação pelo combate a políticas
que compactuam com o que classifica como “alarmismo climático”, “pautas
abortistas e anticristãs em foros multilaterais” e a “destruição da identidade
dos povos por meio da imigração ilimitada”.
Araújo diz que para “extirpar das relações internacionais brasileiras a
ideologia do PT”, é preciso combater o “marxismo cultural”, que busca controlar
não mais os meios de produção material, mas de produção intelectual. “Quando me
posiciono contra a ideologia de gênero, contra o materialismo, contra o
cerceamento da liberdade de pensar e falar, você me chama de maluco. Mas se
isso não é o marxismo, com estes e outros de seus muitos desdobramentos, então
qual é a ideologia que você quer extirpar da política externa?”, pergunta ao
leitor.
‘Torre de marfim’
No começo do texto, Araújo diz que “parte da imprensa e dos colegas
diplomatas” esperava que Bolsonaro escolhesse um chanceler que mantivesse a
política externa em uma torre de marfim, “sob a desculpa de que a política
externa é algo demasiado técnico para ser entendido por um simples presidente
da República, muito menos por seus eleitores”. Alguém que “saísse pelo mundo
pedindo desculpas”, alguém responsável por “frear o ímpeto de regeneração
nacional”.
Para o futuro chanceler, no entanto, a nova política externa precisa
traduzir a “sagrada voz do povo”, entendida como a voz do presidente eleito.
Essa voz, segundo Araújo, deve ser autêntica e não “dublada no idioma da ONU,
onde é impossível traduzir palavras como amor, fé e patriotismo”.
Adotando o discurso “antiglobalista”, Araújo diz que “em uma democracia,
a vontade do povo deve penetrar em todas as políticas”, mas que a “mídia” e a
burocracia globalista “que gostam tanto de falar em democracia, não sabem
disso. Perguntam-se, assustadas: ‘O que vão pensar de mim os funcionários da ONU,
o que vai dizer de mim o New York Times, o que vai dizer The Guardian, Le
Monde?'”, escreveu o embaixador.
O futuro ministro defende que o País precisa de “alguém que entenda de
ideologia” para acabar com ela no Itamaraty, ao reconhecer suas “causas,
manifestações, estratégias e disfarces” “Vencida na economia, a ideologia
marxista, nas últimas décadas, penetrou insidiosamente na cultura e no
comportamento, nas relações internacionais, na família e em toda parte”, afirma
“Se você repudia a ‘ideologia do PT’, mas não sabe o que ela é, desculpe, mas
você não está capacitado para combatê-la e retirá-la do Itamaraty ou de onde
quer que seja. Ao contrário, você está ajudando a perpetuá-la sob novas
formas.”
Por fim, Araújo diz que estudou os intelectuais marxistas para poder
combatê-los. Segundo ele, não basta dizer “não existe mais ideologia no
Itamaraty”. “Ou basta pronunciar ‘pragmatismo’ como uma palavra mágica que se
instalará sozinha? Gramsci, Lukács, Kojève, Adorno, Marcuse estão rindo da sua
cara. Ou melhor, não estão rindo, porque marxista não tem senso de humor”,
finaliza Araújo. (Via: Estadão)
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