Apenas três dias após a morte de
Jorge Enrique Pizano, testemunha-chave do escândalo de corrupção envolvendo a
empreiteira brasileira Odebrecht na Colômbia, seu filho foi encontrado morto
envenenado, informou a Procuradoria do país nesta terça (13).
O arquiteto Alejandro Pizano, 31, morreu no domingo (11), horas após beber
água de uma garrafa contaminada com cianureto que estava no escritório de seu
pai, afirmaram os procuradores.
O jovem morava em Barcelona e estava em Bogotá exatamente para participar
do funeral do seu pai. Sua mulher, grávida de seis meses, ficou na
Espanha.
Pessoas próximas à família informaram à Procuradoria que após beber da
garrafa, Alejandro disse que sentiu um gosto amargo e minutos depois apresentou
uma forte dor estomacal, morrendo a caminho do hospital.
Com isso, foi reaberta a investigação da morte do pai, que ocorreu na
quinta (8) e foi inicialmente atribuída a um infarto -ele também sofria de
câncer. Jorge denunciou o caso de corrupção na construção de uma estrada que
envolve diversas autoridades, incluindo o atual procurador-geral.
Segundo a rede de TV britânica BBC, o corpo de Jorge foi cremado, mas
foram coletados tecidos que agora serão analisados para tentar descobrir
realmente do que ele morreu.
Em uma outra reviravolta, o canal de TV colombiano Noticias Uno exibiu na
segunda (12) uma entrevista gravada em 2015 com Jorge que só deveria ser
publicada quando ele morresse ou deixasse o país. A imprensa local afirmou que
ele estava negociando para fornecer informações sobre o caso à Justiça americana
em troca de proteção e poderia se mudar para os EUA.
O caso envolve a construção da segunda parte da rodovia Rota do Sol, que
deveria ligar a capital Bogotá à costa no Atlântico. A Odebrecht é acusada de
ter pago propina a agentes públicos para ser a única empresa habilitada para
participar da licitação da obra, em um contrato de US$ 1,7 bilhão (R$ 6,4
bilhões) para construir mais de 500 km de estrada, segundo a agência Reuters.
No fim a obra foi tocada por um consórcio em que a empresa brasileira
tinha 62%, tendo como sócio minoritário o Grupo Aval, controlado pelo
empresário Luis Carlos Sarmiento, o homem mais rico do país.
Jorge auditou as contas do consórcio e encontrou irregularidades nos contratos
-por isso, virou testemunha no caso.
Na entrevista publicada nesta segunda, ele afirmou que em agosto de 2015
procurou o então advogado Néstor Humberto Martínez, que prestava assessoria
jurídica ao Grupo Aval, exatamente para avisar das irregularidades que tinha
encontrado.
Jorge e Martinez eram amigos de infância, segundo o engenheiro, que queria
que o advogado repassasse as denúncias a Sarmiento.
O problema é que desde 2016 Martinez é o procurador-geral do país,
responsável por comandar a investigação do caso, e nunca tinha revelado
publicamente que tinha recebido a denúncia.
Na conversa entre os dois, que foi gravada por Jorge e também teve o áudio
revelado pelo Noticias Uno, o engenheiro afirmou ter encontrado um desfalque de
24 bilhões de pesos colombianos (R$ 28,8 milhões) nas contas do consórcio.
Na sequência, Martínez questionou se a verba teria sido usada com certeza
para propina, mas Jorge afirmou que não conseguia confirmar isso.
Em nota divulgada nesta quarta (14) após a revelação do áudio, o
procurador-geral disse que o engenheiro desconfiava que o dinheiro na verdade
seria desviado para o pagamento de paramilitares.
No comunicado, Martínez defendeu sua atuação atuação no cargo e afirmou
que foi em sua gestão que a investigação do caso avançou e que foi confirmada
que a verba era para propina.
Desde que o caso veio a público, no início de 2017, diversas pessoas foram
detidas, entre elas o ex-vice-ministro dos Transportes, Gabriel García Morales
(acusado de receber o equivalente a R$ 24,6 milhões) e o ex-congressista Otto
Bula (R$ 17,45 milhões).
Na investigação que corre nos EUA sobre a corrupção da Odebrecht na
América Latina, a própria empreiteira declarou ter pago US$ 11 milhões (R$ 41,7
milhões) em propina e caixa dois na Colômbia, mas não está claro quanto desse
valor é relativo a Rota do Sol e existe a desconfiança que o valor real seja
maior.
Há ainda denúncias de caixa dois para a campanha de diversos políticos,
entre eles o ex-presidente Juan Manuel Santos (2010-2018), mas sem ligação
direta com o caso da rodovia.
As investigações, porém, estão atualmente paradas porque o o procurador
encarregado do caso, Amparo Cerón, sofreu um acidente de trânsito durante suas
férias e passou vários dias na UTI, e ainda está impedido de voltar ao caso. (Folhapress)
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