Há 78 dias, o petróleo cru
encontrado na costa brasileira ainda era chamado de “substância escura e
oleosa”. O que poderia parecer inicialmente um caso isolado se mostrou,
contudo, uma das maiores tragédias ambientais do País, atingindo desde então
quase 600 localidades do Nordeste e do Espírito Santo.
O óleo chegou a praias, ilhas, manguezais, rios e Áreas de
Proteção Permanentes (APPs) em grandes manchas ou fragmentos. Em alguns
lugares, foi encontrado mais de uma vez, inclusive em pontos que estavam
praticamente limpos, como a Praia de Itapuama, uma das mais afetadas em
Pernambuco.
Os casos mais recentes são de vestígios, menores ou do
tamanho da palma da mão, mas também impactantes para as comunidades locais,
como a capixaba Praia de Regência, atingida há quatro anos pela lama da
barragem de Mariana. O encontro do óleo e da lama também se repetiu em
Abrolhos, na Bahia, que reúne a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul.
A retirada começa de forma improvisada, pela população local
e até por turistas, e depois conta com diferentes esferas governamentais. Com o
avanço do óleo por destinos turísticos do Nordeste, a gestão Jair Bolsonaro foi
pressionada a intensificar a resposta. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo
Salles, negou demora na reação ao desastre e o governo enviou militares às
praias para ajudar na limpeza.
Em vários pontos, a maior parte
da força-tarefa é de voluntários, muitas vezes sem equipamento adequado para
evitar o contato direto com a substância. “Não era para voluntários terem
contato com o resíduo nas praias. É só pegar o exemplo de outros países. Mas
imagina o pescador, que tem no mar a fonte de renda, vendo que está chegando o
piche”, afirma Sidney Marcelino Leite, coordenador do movimento Salve
Maracaípe.
Com a menor concentração de óleo
em alguns Estados e o relato de contaminação ao contato com óleo, ONGs têm
visto menos voluntários e até tentam emplacar convocações como “o óleo não
acabou” e “cadê vocês?”. “O grosso (do óleo) parou de chegar, as pessoas acham
que está tudo bem e cai o número de voluntários. Ainda vem bastante gente no
fim de semana. Agora, o processo é mais minucioso, como o de tirar das pedras”,
diz Leite.
Investigação
Até agora, a Polícia Federal não
tem uma explicação definitiva sobre a origem e a causa do derramamento.
Bolsonaro afirmou que o óleo tem “DNA da Venezuela”, mas não há provas de que o
país vizinho tenha relação direta com o vazamento, que teria começado em meados
de julho até atingir, em agosto, o litoral do País.
Entre as hipóteses estão o
derramamento por um navio que teria passado pela área ou, até mesmo, afundado.
Segundo a PF, o navio grego Bouboulina é o principal suspeito, mas a empresa
proprietária nega e especialistas têm questionado os indícios do governo. Outras
questões seguem sem resposta, como o impacto no pescado. Embora o governo
federal considere seguro o consumo, a pesquisa usada como base era inicial e
teve anúncio contestado até por um dos cientistas responsáveis (por envolver
produto da pesca industrial, minoria na região).
A maior parte dos esforços
científicos vem de universidades federais, organizadas individualmente ou em
rede do Norte ao Sul do Brasil. “O trabalho de pesquisadores e voluntários é
desenvolvido em rede com outros Estados. Umas são formais, como as dos
institutos, e outras informais”, conta Jailson Bittencourt de Andrade, do
Centro Interdisciplinar de Energia da Federal da Bahia (UFBA) e vice-presidente
regional da Associação Brasileira de Ciências.
As pesquisas buscam soluções para
questões emergenciais, mas devem se prolongar. “Os efeitos não vão cessar de
imediato. É preciso alguns anos para investigar as consequências no ambiente e
nos organismos”, diz Emerson Soares, coordenador da força-tarefa da Federal de
Alagoas (Ufal), que reúne 22 professores e cerca de 80 alunos de graduação e
pós. Pesquisadores estimam que serão precisos de 10 a 20 anos para acabar com
os efeitos nocivos do óleo.
Também são desconhecidos os
efeitos no turismo. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis
potiguar, não houve cancelamentos expressivos de reservas e o impacto deverá
ser conhecido no início de dezembro, quando dados da ocupação hoteleira do
último trimestre são tabulados.
Destino
No Sudeste, Estados e Prefeituras
têm feito treinamentos diante da possível chegada do óleo. Segundo o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), correntes marinhas podem levar o
material até o norte fluminense, mas uma proteção natural dificulta a passagem
ao sul de Cabo Frio. (Via: agência Estado)
Blog: O Povo com a Notícia