No período de seis meses após a alta hospitalar, um em cada quatro pacientes graves de Covid-19 que foram intubados acaba morrendo. Entre os internados que não precisaram de ventilação mecânica, a taxa de mortalidade é de 2%.
Os resultados preliminares são do estudo Coalizão,
conduzido por oito hospitais de excelência do Brasil e institutos de pesquisa,
que avalia a qualidade de vida e os desfechos de sobreviventes de
hospitalizações por Covid-19.
Os participantes são pacientes internados nessas
instituições. São monitorados por ligações telefônicas a cada três, seis, nove
e 12 meses após a alta hospitalar.
Os
pesquisadores investigam, por exemplo, se eles foram reinternados por alguma
razão, se sofreram eventos cardiovasculares e falta de ar e se voltaram ao
trabalho e às atividades habituais.
Os dados já disponíveis mostram que, no período de
seis meses, a taxa de nova hospitalização geral desses pacientes foi de 17%.
Entre os intubados na primeira internação por Covid, 40% tiveram que ser
reinternados.
"Trabalho em UTI, estou envolvido com vários
estudos e fiquei muito surpreso com esses resultados. Mesmo nos casos mais
leves, a doença não tem uma evolução tão benigna quanto pensávamos", diz
Alexandre Biasi, diretor de pesquisa do HCor (Hospital do Coração) e membro da
Coalizão Covid-19 Brasil.
A rede é formada pelos hospitais Albert Einstein,
HCor, Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa e
os institutos Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de
Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Embora a intubação esteja associada a uma maior
taxa de mortalidade e complicações na internação e após a alta, é a gravidade
da doença, e não o procedimento em si, a responsável pelos desfechos ruins.
A ressalva é importante porque muitas pessoas têm
retardado a ida ao hospital com medo da intubação, o que piora ainda mais o
quadro clínico.
O estudo Coalizão ainda está compilando as causas
das mortes e das reinternações dos sequelados pela Covid, mas os
dados preliminares já servem de alerta para a
importância do acompanhamento desses pacientes após a alta.
O trabalho mostra que 20% dos pacientes que foram
intubados ainda não tinham voltado a trabalhar seis meses após deixarem o
hospital. Entre os que não precisaram de ventilação mecânica, foram 5%.
"O problema não acaba quando o paciente sai
do hospital. Temos agora um contingente absurdo de pessoas com sequelas de uma
doença aguda que antes não tínhamos na sociedade. Falta de ar, por exemplo, é
super comum, mesmo em casos que não eram graves. É uma perda para as pessoas,
uma perda para a sociedade", diz Biasi.
Os primeiros resultados do estudo Coalizão
envolveram 1.006 pacientes. Atualmente, mais de 1.200 estão sendo acompanhados
e outros ainda serão incluídos. A idade média dos participantes é de 52 anos,
sendo 60% homens. O tempo médio de hospitalização foi de nove dias. Um quarto
necessitou de ventilação mecânica.
Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores
é a alta taxa de queixas de transtornos mentais após a alta hospitalar: 22%
relatam ansiedade, 19%, depressão e 11%, estresse pós-traumático.
"Independentemente de terem sido ou não
intubados, o impacto na saúde mental é grande. Em três meses após a internação,
20% dos pacientes intubados apresentam sinais de estresse pós-traumático. Entre
os não intubados, foram 12%", diz .
Nos pacientes mais graves, os pesquisadores estão
analisando os efeitos da chamada "síndrome pós-UTI". Essas disfunções
acabam gerando sequelas importantes como fraqueza muscular e redução da
capacidade física.
O fisioterapeuta Rogério Dib, do departamento de
pacientes graves do hospital Albert Einstein, explica que os pacientes
intubados, além da imobilismo e da sedação, usam uma medicação chamada de
neurobloqueador, que "desliga" os músculos.
O tempo de reabilitação depende da gravidade da
doença, do tempo de internação e da condição prévia de saúde do paciente.
"Quanto mais frágil o paciente, mais sujeito a ter complicações."
O empresário Victor Simão, 62, foi infectado em
outubro do ano passado e ainda busca recuperar os sete quilos de músculo
perdidos nos 19 dias de internação no Einstein, sete dos quais na UTI, intubado.
No seu caso, a evolução da doença foi muito
rápida. Em menos de uma semana de sintomas, 75% do seu pulmão ficou
comprometido, ele sofreu uma embolia pulmonar e precisou ser intubado.
Ao sair do hospital, ele conta que não tinha
condições de ficar em pé tamanha a fraqueza. Em casa, precisou de mais 20
sessões de fisioterapia para ir recuperando a força muscular. No período,
também contou com ajuda da fonoaudióloga para reaprender a comer sem engasgar.
"Você começa a dar importância às pequenas
coisas da vida, que é a sua independência. Naquele período, me ajudavam a
escovar os dentes, a pentear o cabelo, a ir ao banheiro. Alguém precisava me
ajudar a sair da cama porque se eu ficasse em pé, cairia."
Ele retomou a rotina de trabalho e faz academia
quatro vezes por semana. "Estou quase no que eu era. Não consigo levantar
os mesmos quilos de antes, mas estou chegando lá."
Para ele, foi um conjunto de fatores que
possibilitou a sua rápida recuperação. "Acho que foram as correntes de
orações, o hospital, os médicos, as enfermeiras, a fisio, a fono, a
nutricionista. Você depende de uma série de pessoas, elas é que te salvam a
vida. Eu sou um privilegiado não só pela recuperação, mas por ter acesso a todo
esse tratamento." (Via: Folhapress)
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